quinta-feira, 21 de junho de 2007

O SHOW DA VIDA

O casal que mobilizou a audiência do Big Brother acabou. Diego e Íris conheceram-se dentro do reality show que atrai uma das maiores audiências da tv brasileira. O país se enamorou deles, e de uma hora pra outra, o que seria um programa com diversos participantes engalfinhando-se por dinheiro e fama, transformou-se num melodrama em horário nobre. Ele, garotão bonito e arrogante, bem nascido e com toda pinta de playboy típico das cidades brasileiras; ela, garota do interior, de família classe C e ávida por virar uma estrela da televisão, profissão em alta nos últimos anos aqui no Brasil, protagonizaram uma novela que só não foi tipicamente mexicana porque foi exibida com toda a estrutura da Globo. Antes mesmo do Big Brother acabar, a mídia endeusou o casal como a nova esperança da família brasileira: 02 jovens bonitos fazendo juras de amor eterno sob o olhar de milhões de espectadores.

Se alguém achava que Diego e Íris dariam certo fora da casa foi uma decepção. A começar da família de ambos, de uma hora pra outra, tornaram parentes e tratavam de empurrar o casal ao altar. Promessas de casamento, a questão da perereca semi-virgem da caipira, que alardeava pra todos ter estado com um único homem em toda sua vida, a redenção de uma mulherengo incorrigível, a busca pelo amor no seu mais alto grau de fantasia: era a televisão no seu estado máximo, dentro e fora da casa.

Diego Gasquez e Irislene Stefanelli, logo que saíram do programa, afirmavam ter vindo de "mundos diferentes", e que a pureza da caipira derrubou a soberba do loiro bem nascido. Essa questão de mundos diferentes é bastante relativa, pois a pureza dela não é tão límpida assim, muito menos a pose de mimado dele. Mal saídos da casa global, ambos começaram a colher os dividendos da superesposição; Íris fez todos os ensaios sensuais que poderia fazer e Alemão também. As diversas entrevistas concedidas por ambos, juntos ou separados, giravam em torno dos atributos de cada um, da primeira noite de sexo, do deslumbramento em conhecer celebridades, do assédio nas ruas e nada muito além dos esquema das revistas de fofoca, e, claro, da "vida em comum" do casal fora da casa, no mundo real.
Real? Passadas as primeiras semanas, começaram os primeiros indícios de que o amor eterno do casal não demoraria muito e não precisava ser muito perspicaz pra se antecipar isso.

Íris é a típica brasileira, dentre milhares, que colocou como seu objeto de vida ser famosa. Virar modelo e atriz, no Brasil, virou obsessão nacional entre as jovens oriundas das classes C e D, e ela não foge à regra. Bastar assistir qualquer programa de tv e vê-la falando para se atestar que no cérebro não tem muita coisa. A começar da dicção e da dificuldade de concatenar idéias, certamente se ela lê algum livro, não passa dos de auto-ajuda, e olhe lá, talvez um Paulo Coelho. Ela precisa explorar o máximo enquanto não surgir a próxima superfamosa e ganhar tanto dinheiro quanto puder agora. Errou feio ao esnobar a Playboy, talvez aconselhada a manter sua aura de menina virginal do interior e de família. A imagem destrambelhada e de mulher burrinha, porém honesta, não deve demorar muito a cansar, até porque a associação com Diego era vital para evidenciar ainda mais essa estampa. Tentou engrenar como atriz no Zorra Total mas foi tão ruim que não passou da primeira participação; novelas então, até agora nada. Deve ter sonhado em chegar onde outra ex-BBB, Grazi Massafera, chegou, mas ter a mesma sorte que a outra teve é tão difícil quantos 02 raios caírem no mesmo lugar.

Pelo outro lado, o Alemão encontra-se numa situação menos difícil. Ser homem e estar na crista da onda na mídia tem um tempo maior e menos concorrido do que ser uma mulher. Enquanto símbolos sexuais femininos surgem à cada semestre e viram paixão nacional, os homens que são alçados nesta posição surgem num número muito menor, portanto, aproveitar a imagem no caso de Diego é tarefa mais fácil. E sabe-se que ele tem tino para os negócios, o loiro tratou de guardar o prêmio milionário no banco e usufrui dos inúmeros contratos publicitários e presença em eventos que é convidado. Montou um escritório pra gerenciar a carreira e tem um carisma natural com as câmeras, além, é claro, da estampa de galã.

O casal encarnou o que toda a indústria de celebridades esperava, e seus respectivos empresários, claro. Foram dezenas de capas de revista, participações em programas, declarações de amor, frases de efeito, tudo, mas tudo, devidamente clicado, filmado, registrado, carimbado, rotulado...e milimetricamente ensaiado pra durar o quanto pudesse. Comunidades no Orkut para ambos somam mais de 200 mil pessoas, é um público (e um mercado consumidor) que não pode ser desprezado assim. E em se tratando de internet, pipocam sites sobre o casal, e até mesmo um blog para ambos (dentre dezenas) publica uma “carta aberta” em apoio ao casal recém-separado. Acredite se quiser; não sei como ainda não fizeram um abaixo-assinado pela volta.
Ambos seguraram a onda do namoro o quanto puderam. Pra ser mais específico, até o dia dos namorados, obviamente. Até esta data posaram de apaixonados e desmentiram todos os rumores (e era óbvio né?) de que não se aguentariam por muito tempo.

A mídia já mudou de estratégia e agora explora ao máximo os detalhes da separação, as mágoas mútuas, e o amor que nunca foi verdadeiro. Oh! - irão dizer alguns, o que será da doce e pura Íris agora? E o Diego? quem será a primeira famosa a cair em seus braços? Aguardem os próximos capítulos, a novela ainda não acabou. Enquanto ela e os outros remanescentes da última edição não se livrarem do contrato de exclusividade com a Globo, que acaba em breve, as emissoras concorrentes e seus programas trash entrevistam os pais e parentes próximos de cada um. Quando todos estiverem livres pra serem entrevistados por qualquer canal de tv, certamente ocuparão todos os programas do gênero.
Íris já saiu em desvantagem, pois até agora não teve o contrato renovado e ele acaba dia 02 de julho próximo. Quanto a isso, pelo menos um consolo, se a Globo virar-lhe as costas, as outras emissoras irão se esbaldar com ela em sua programação, se tiver sorte poderá até mesmo a ser contratada, mas pra fazer o quê? Bom, isso é o de menos.

ENQUANTO ISSO...

Correndo em outra raia, Thammy, a filha de Gretchen (esta é a profissão dela), arrecada o quanto pode com sua namorada lésbica de fachada. Já posaram nuas juntas num ensaio “artístico” (ela havia posado também com a “ex-namorada”), e apesar de reportagens afirmarem que a atual namorada não gosta muito da fruta de Thammy, as duas continuam jurando que se amam. Detalhe: de acordo com o contrato feito com a revista Sexy Premium, as duas tem um acordo de não se separarem até que a segunda edição da revista, com mais fotos do casal, chegue às bancas.

Girl In a Coma - Road To Home


Náo pense que a garota deste vídeo é uma animação digital ou algum outro efeito que alterou algum contorno do seu rosto ou corpo. Amanda Lepore, transformista e ícone da noite novaiorquina participou do vídeo da banda Girl In a Coma. Amanda (que chamava-se Armand) já fez diversos ensaios fotográficos e campanhas publicitárias, sempre exaltando as possibilidades que o silicone lhe oferece. Fez várias cirurgias plásticas, sempre inspirada em ícones femininos dos desenhos e do cinema, como Jessica Rabbit e Marilyn Monroe, a musa do fotógrafo David LaChapelle e do artista Eli Sudbrack adora formas curvilíneas - basta olhar para ela. Ah, e a música da banda é muito boa.

É COISA NOSSA

Renan Calheiros, o criador de bois mais esperto do Brasil, continua arrastando-se perante as evidências de que recebeu dinheiro, utilizou serviços, e usou notas frias e modos duvidosos nas suas transações pessoais. Assistir o Conselho de Ética na TV Senado é um programão. A desfaçatez e cara de pau dos canaçhas que compõem o nobre conselho é de uma sordidez sem tamanho. E vamos levando, nada muito diferente do que sempre aconteceu por aqui. Dois relatores já capitularam, e o presidente do Conselho, Sibá Machado, é de fazer rir, assistindo pela tv percebe-se que ele aprende rápido o modus operandi da Casa.
Epitácio Cafeteira, o primeiro relator a desistir, representa tudo que há de mais atrasado na política brasileira. Deveria ser empalhado e exposto em algum museu da República. Wellington Salgado, o segundo a pular fora, é ator de primeira linha, faz inveja a muitos profissionais por aí. E entramos em mais uma semana sem que o Presidente do Senado Federal tenha a coragem de enxergar o óbvio e, no mínimo, licenciar-se do cargo enquanto duram as investigações, que no fim das contas, não querem investigar nada.

terça-feira, 19 de junho de 2007

LINGUAGEM CIFRADA

Eu não entendi a Pedra do Reino, alguém entendeu?
As chamadas na Globo anunciando a microsérie, somadas a uma grande cobertura da imprensa à respeito do projeto quando ainda era filmado em Taperoá, criaram uma expectativa grande. No primeiro capítulo uma profusão de imagens, sons, música e texto me deixaram meio zonzo. Deve ter alguma coisa errada comigo, pensei, mas não conseguia pegar o fio da meada e não entendia patavinas do que acontecia na telinha. Terminado o primeiro capítulo, ainda zonzo com o que tinha visto, decidi assistir no dia seguinte o segundo, pois talvez as idéias clareassem na minha mente e pudesse então acompanhar a história.
Mas que nada, assisti o segundo e metade do terceiro pra desistir da Pedra do Reino. Conversando com as pessoas, pareceu-me que o problema não era comigo, e sim da série, ninguém entendeu nada.
Claro que a narrativa tradicional na televisão foi revirada pelo avesso na adaptação do livro de Ariano Suassuna. É bom que se quebrem paradigmas na tv e novas formas sejam testadas na televisão. Antes mesmo da estréia, o diretor já anunciava uma "quebra" dos conceitos estáticos típicos da tv e falava numa nova forma de "apresentação", saindo do lugar comum que a tv de massa transita em termos narrativos e testando uma nova forma de se fazer televisão. A série prometia, mas foi rejeitada pelos telespectadores.

Ainda que seja bastante positivo a proposta de mais um caminho dramático como alternativa ao padrão clássico, a Pedra do Reino talvez tenha ido ao extremo sem passar por um meio-termo, permitindo ao telespectador que se familiarizasse com uma linguagem mais experimental, para testar mais adiante mudanças tão radicais. O público que assiste tv aberta foi acostumado as narrativas do folhetim, ao padrão clássico do cinema com história de começo-meio-fim e a facilidade do próprio roteiro "entregar" uma história pronta para consumo. Mas o diretor Luiz Fernando Carvalho foi muito além num primeiro momento ao exigir do público uma compreensão de imagens, sons e textos soltos, sem uma ordem lógica de acontecimentos, deixando para o telespectador uma profusão de informações que o levaram ao desinteresse. Se no cinema escolhe-se o filme que se vai assistir e existem diferentes formas de narrativa, da clássica às mais experimentais, atendendo ao desejo de diferentes públicos, na televisão uma ruptura tão grande na forma tradicional pode confundir, e pior, afugentar a audiência.

Mas não se deve negar o mérito da Pedra do Reino. A Globo permitiu-se ousar e apostou (e não é a primeira vez) num produto de resultado estético e dramático à frente do que se faz em muitas televisões do mundo. A fotografia, cenários, figurinos e a linguagem cênica são de encher os olhos; o elenco, formado por atores locais (com exceção de Cacá Carvalho) e sem os rostos plastificados e sem-talento comuns das novelas deu um show de interpretação e mergulhou no universo lúdico de Ariano Suassuna; a preparação deles e do restante da equipe foi primorosa e deu-se ao luxo de requintes utilizados no cinema. Ainda que tenha sido confuso de assistir o desenrolar da história, é inegável a contribuição que o projeto deu para a própria televisão no Brasil; talvez o passo tenha sido grande demais ou mesmo confuso, mas abriram-se novas possibilidades na tv.

quinta-feira, 7 de junho de 2007

SAI DE BAIXO

APERTEM OS CINTOS


Eu entro no saguão empurrando o carrinho e respirando fundo. Antes mesmo de sair de casa já passei mal de ansiedade e meu intestino reagiu prontamente, sem falar que a noite foi praticamente em claro. Estou na fila do check-in e como sempre faço, fico observando as pessoas que estão à minha frente, tentando adivinhar quem são, se estão nervosas, ansiosas, ou em algum estado alterado pelo embarque que se aproxima. Eu, estou à beira do pânico.

Sou um entusiasta da aviação. Adoro ler sobre o diferentes tipos de aeronaves, conheço diversos modelos, sei diferenciar um Boeing de um Airbus e considero a aviação uma das mais fantásticas invenções humanas de todos os tempos. Sei que é contraditório, mas apesar de ficar fascinado com aviões e saber do quão seguro é estar dentro de um nos céus, eu fico simplesmente aterrorizado quando viajo de avião.

Recebo meu tíquete de bagagem e vou comer alguma coisa (meu vôo é com a Gol Linhas Aéreas), e logo já estou sentado na sala de embarque.
Minha barriga dói, não paro com as mãos, suo frio; olho os outros passageiros e logo já estou imaginando que, se o avião cair, aquelas serão as últimas pessoas que verei na vida. Penso no acidente do Legacy, em cair no meio de uma floresta ou (terror!) no mar. Olho pela vidraça e o céu está nublado, vai balançar na subida - penso. A subida é uma fase crítica do vôo: asas cheias de combústivel, força total nos motores e um peso de 45 mil quilos sendo empurrado pra cima; uma emergência numa hora dessas é pra matar qualquer um do coração.

Finalmente, depois de 01 hora de atraso do horário marcado pra saída, uma funcionária "convida" todos nós a nos dirigirmos para o embarque. A única coisa que me vem à cabeça é que dentro de mais alguns minutos eu estarei preso dentro daquele charuto de aço subindo a mais de 400 por hora; seja o que Deus quiser.
Quando entro no avião, nova surpresa: a aeronave original seria um Boeing 737-800, mas devido a quantidade de passageiros a empresa trocou por um 737-700, ligeiramente menor, resultado: quem iria sentar nas últimas poltronas (como eu) não tem mais lugar marcado já que , no meu caso, a fileira 27 não existia.
Sempre que viajo de avião faço questão de ir na janela e sentado ao fundo da aeronave, estatísticas comprovam que sobreviventes de acidentes aéreos estavam sentados nas últimas fileiras e, portanto, já penso nisso no momento da reserva. Entretanto, com a mudança de equipamento sou encaminhado pra sentar numa poltrona (janela)...em cima da asa!

Pra quem não sabe, nas asas dos aviões fica o combustível. Não é preciso ser muito perspicaz pra saber que em caso de acidente, os primeiros a morrerem queimados são os que sentam nas poltornas sobre a asa, logo, eu já adiciono mais esse detalhe à minha lista de elementos trágicos quando estou em vôo. Ah, e também nas asas há maior instabilidade, pra quem fica apavorado é um prato cheio.
Já sentado em cima da gasolina, digo, poltrona, olho desconfiado em volta, procurando alguém que possa, naquele momento, ser cúmplice do meu medo. Invejo aqueles que entram num avião e ficam com ar de tédio, tranquilos...alguns até dormem!

O 737 começa a taxiar. Minhas mãos suam, não tiro o olho da janela. Observo lá fora o aeroporto e logo atrás a avenida com carros passando. Meu Deus, talvez seja a última vez que estou vendo aquilo! Penso no meu pai, na minha vida; meu coração quase saindo pela boca. Os minutos que levam pra aeronave chegar até a cabeceira da pista são um prolongamento da expectativa aterrorizante de ganhar os céus. Logo, logo estarei subindo; dou mais uma olhada e disfarçadamente entrelaço minhas mãos e rezo um Pai-Nosso, mais discreto ainda, faço um sinal da cruz e dou um suspiro. Tá chegando a hora.

Avião parado na cabeceira, e o barulho dos motores da turbina. Já me antecipo e lembro que logo após iniciar a subida ouvirei um barulho no assoalho - os trens de pouso se fechando, aposto que muita gente se assusta. Então, começamos a correr pela pista, motores rugem e me seguro na poltrona, minhas mãos a essa altura molhadas, minhas axilas idem; descolamos do chão, estamos subindo meu Deus! Setenta mil quilos vencendo uma força gravitacional que nos puxa pra baixo.
Imagino uma explosão - morte imediata, nada de dor. E se o avião inclinar-se e começar a perder altura? Será que o transponder opera normalmente? Fico dizendo pra mim mesmo o quanto sou maluco e que não deveria preocupar-me tanto com um transporte absolutamente seguro, mas alterno com as imagens de uma possível emergência ou mesmo uma tragédia.

Claro que todo esse desespero é irracional, não controlo. Sei que aviões são o meio de transporte mais seguro, mas é fato que os outros transportes não estão o tempo todo indo de encontro as leis da física que contradizem o ato de voarmos artificialmente. Além do mais, aviões são feitos pra queimar: além de todo material interno ser altamente inflamável, carregamos toneladas de combustível, numa velocidade de 800 kilômetros por hora, num meio de -30 graus celsius e a 10 mil metros de altura. Tem tudo pra dar errado.
Logo que estabilizamos começo a me acalmar. E daí vem a melhor parte da viagem, onde eu realmente curto e consigo esquecer todo o mau agouro, ainda que momentaneamente, pois basta entrarmos numa zona de instabilidade, pronto: o avião começa a tremer e eu inicio o mantra: "está tudo bem, calma, não é nada...vai passar."
Outra coisa que me dá nos nervos: curvas. Não gosto de avião fazendo curva, e se for daquelas bem fechadas (!), com uma inclinação grande eu logo me vejo despencando lá de cima.

Metade da rota é feita sobre o mar. Mais um motivo pra pensar que num eventual pouso de emergência, tubarões estarão à espreita. Olho a distância do continente para o ponto em que estamos e deduzo que se eu escapar de um pouso ali no atlântico, não terei forças pra chegar em terra firme batendo os pés e agarrado em meu assento flutuante. Em se tratando de Brasil, sou pessimista, a Marinha demoraria horas pra nos resgatar e seríamos todos devorados por tubarões famintos.
é servido o...bom, pelo horário, deveria ser o almoço, mas como estou voando pela Gol, recebo minha barrinha de cereal e minha Pepsi-Cola com gelo.
Já mais calmo e num vôo tranqüilo, quase sem trepidação, folheio uma revista, porém sempre de olho na janela.

Começamos a descida e lembro-me das estatísticas: a aterrissagem, ao contrário do que muitos pensam, é o momento em que ocorrem a maioria dos acidentes aéreos. Além de perdermos altura rapidamente, o avião vai diminuindo sua velocidade quanto mais desce, até a metade. E eu já sabia o que teria pela frente: São Paulo estava com uma frente fria há dias, céu carregado de nuvens e chuva; tempo fechado, lá vamos nós.
Atravessamos a primeira faixa de nuvens, as mais fininhas (cirros) e até que não foi tão mal assim; logo abaixo, vejo pela janela que uma verdadeira muralha de nuvens carregadas nos esperava em breve, começo a suar novamente.

Se já não bastasse a travessia da barreira de cúmulos e nimbos, o piloto me vem com essa: " - srs. passageiros, recebemos a informação da torre de controle de que devido o mau tempo e o fechamento de uma das pistas do aeroporto de Congonhas, nossa aterrissagem será mais demorada e ficaremos sobrevoando a região até o momento em que recebermos autorização para pouso. Temos várias aeronaves aguardando nesta região e teremos mais um tempo de vôo." O avião mergulha dentro das nuvens carregadas e começa a chacoalhar.

Como se meu pavor não fosse ainda suficiente com a aflição de uma aterrissagem em meio ao mau tempo, a trepidação angustiante e a menor velocidade, estamos voando em círculos, no meio de nuvens carregadas e na companhia de outros aviões ao nosso lado! Tento disfarçar meu pânico e sorrio amarelo pra minha vizinha de poltrona: "- é, vai atrasar meu dia...", digo sem muita convicção; o que eu queria mesmo era sair dali o mais rápido possível.
Pela janela não se vê nada, só o branco das nuvens em volta, não sei onde estamos, o que está abaixo e quem está acima de nós. Lembro-me que os controladores de vôo trabalham sobrecarregados, que o tráfego aéreo de São Paulo é o maior da América do Sul, que a CPI do apagão aéreo não vai dar em nada, que o Ministro da Defesa é um incompetente e Lula, bom, Lula diz que vai tudo bem nos céus do Brasil.
Ficamos nesse tormento uns 15 a 20 minutos; não se via nada pela janela e eu imaginando nosso avião sendo rasgado por outro na direção contrária, despencando em pedaços sobre São Paulo e eu sendo "enterrado" numa cerimônia simbólica. Era o fim.
Finalmente o piloto avisa que iniciaremos a aterrissagem e passamos das nuvens carregadas, aos trancos; avisto a cidade abaixo, "falta muito pouco" - penso eu, e mais alguns minutos sinto o baque seco do avião tocando a pista. Sobrevivi.

Tento disfarçar meu sorriso de satisfação e meu alívio por estarmos em terra firme. Olho em volta, todos bem, tudo certo; tomara que não esteja muito frio lá fora. Quando o avião estaciona, mais uns 10 minutos até a fila de passageiros começar a andar e eu finalmente ponho a cara pra fora da cabine: 12 graus em São Paulo, um frio de rachar. Desço as escadas , olho com admiração para o 737-700 imponente parado à minha frente e sigo adiante, reverenciando-o. Eu realmente adoro viajar de avião, apesar de passar por todo esse sufoco silencioso. Mais alguns dias e lá estaria eu de novo, na viagem de volta; lembro que dessa vez será de madrugada, sinto um frio na espinha e balanço a cabeça, disfarçando um sorriso.

quarta-feira, 6 de junho de 2007

SAL DE FRUTA


A novela das 18:00, Eterna Magia, é de dar pena. Pena de quem assiste Thiago Lacerda e Malu Mader competindo no nível de canastrice. É constrangedor.

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Jô Soares diariamente cita, direta ou indiretamente, a questão da "volta da censura". Se Chavez foi correto em fechar a RCTV na Venezuela, por questões de interesse público, tudo bem, visto que TVs são concessões públicas; mas se ordenou o fim das transmissões por critérios políticos ( o que me parece) é mais uma demonstração de que a Venezuela está indo pra um caminho perigoso. Agora, o rotundo apresentador querer enfiar goela abaixo de que os pais é quem devem decidir o que os filhos irão assistir na televisão, ou seja, ser contra um controle sobre conteúdo inapropriado ficar restrito a determinadas faixas de horário, é muita cara-de-pau. A Globo agradece.