terça-feira, 27 de março de 2007

Céu de Brigadeiro

E a novela do apagão aéreo continua. Salve-se quem puder, e rezem pra não trombarem com outro avião por aí.
Como pode um governo, há 06 meses, estar diante de um problema que foi provocado por uma mistura de incompetência administrativa e falta de planejamento puro e simples deixar que uma situação destas que temos no sistema aeroportuário do país chegasse a este ponto? Aliás, a pergunta deve ser refeita pois "neste ponto" chegamos em setembro do ano passado quando um avião despencou com quase 100 passageiros à bordo e outro por pouco não teve o mesmo destino. A questão a ser respondida é como pode permanecermos nesta situação sem uma satisfação decente dos responsáveis e um jogo de empurra típico das autoridades deste país há tanto tempo, 06 meses!!! Eu repito, 06 meses em que vivemos o caos aéreo e o presidente ainda pede providências!!
E o mais espetacular: o Ministro da Defesa, Valdir Pires, que até o momento continua no cargo - depois do acidente, depois das 03 panes no Cindacta, depois das quase-colisões serem reveladas, depois da insubordinação dos funcionários , depois do cachorro na pista de Congonhas, depois do blecaute (!!) no aeroporto de Brasília, depois dos atrasos , desrespeitos, overbookings e centenas de cidadãos perdendo não apenas a paciência, mas também dinheiro, compromissos, etc. Sim, parece absurdo, ele continua lá recebendo a imprensa em coletivas, reunindo-se com a Casa Civil(quando não com o presidente) e proferindo as frases feitas de que "providencias serão tomadas". Mas até quando? Vão esperar um avião cair novamente?

No Brasil autoridades públicas parecem ser os últimos culpados, isso quando se admitem culpados, o que é raro. Não se vê neste país um agente público ou um agente político reconhecer que errou, que a responsabilidade por algo que lhe compete tenha falhado. Não, somos o país das sindicâncias e dos inquéritos, é isto que é anunciado em primeira ordem mesmo quando os fatos já sejam por si só claros o suficiente para atestar que algum representante público errou, que algo que deveria ter sido feito falhou. As sindicâncias, feitas para identificar um culpado, parecem muito mais um jogo de retórica para empurrar debaixo do tapete do que qualquer tentativa séria de dar uma satisfação á sociedade.

Seria muito mais honesto de uma vez por todas que o poder executivo, que guarda sobre sua alçada o ministério da Defesa, assumisse: erramos, vamos consertar, logo! E que verifiquem-se as responsabilidades até o fim. Ao invés disso temos a falácia eterna ante os repórteres e cidadãos que perguntam quando o caos irá acabar. Político brasileiro que se preza, e aí se incluem do vereador ao presidente da república, passando por ministros, secretários ,etc, nega tudo que lhe for imputado, estamos cheios de exemplos de cima a baixo onde as desculpas são do tipo "fui vítima de um complô", "é tudo mentira, posso provar", "a assinatura não é minha", "Isso é uma inverdade" e uma imensa lista de escusas, omissões, cara de pau e todo tipo de artimanha lícita ou ilícita pra se fugir das responsabilidades.

E a normalidade brasileira segue adiante. Valdir Pires continua no cargo, O presidente segue cobrando providências, os controladores ameaçam parar as vésperas do PAN, o aeroporto de Congonhas a cada chuva e neblina ficará inoperante, as companhias aéreas burlam direitos do consumidor, e nós...bom, a gente que se dane.

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obs.: mudando de assunto, lembram dos dólares apreendidos, do dossiê?? do PT e do PSDB envolvidos no escândalo às vésperas da eleições passadas? Ah..deixa pra lá.

Vídeo - Um em cada 10 argentinos é gay.



Sentimentos xenófobos à parte, este comercial do Cinzano é uma boa sacada (criativa!).

domingo, 25 de março de 2007

Equus


"A normalidade tem um grande poder de machucar a comunidade humana como também o indivíduo, nós vivemos num mundo padronizado. Existe uma norma para tudo. Viver de forma diferente só é aceitável se vivido por um número grande de pessoas. Tentar esse caminho sozinho significa tornar-se um proscrito."
Mario Abbade, jornalista.

Ele poderia estar muito bem aguardando o início das filmagens de mais um Harry Potter, afinal antes mesmo de completar 18 anos(julho de 2007), já era milionário por seu próprio trabalho. Poderia optar por seguir a imagem de bom menino alcançado ao longo dos anos submetendo-se à papéis de bom moço em filmes água com acúcar - gênero que sempre rendeu boas bilheterias e retorno financeiro. E os produtores, estúdios e empresários certamente achariam mais seguro investir na manutenção desta imagem "positiva".
Mas Daniel Radcliffe surpreendeu muita gente ao decidir fazer parte em um texto teatral controverso e que nem de longe alguém poderia associar ao doce e esperto garoto dos filmes de Harry Potter. Diversas reportagens atestaram o espanto de gente da mídia cinematográfica, como produtores e empresários artísticos; mesmo o estúdio que detém os direitos de filmagens dos livros do famoso bruxinho apressou-se em desvincular a incursão teatral do papel nos filmes adolescentes, como que tentando reparar um provável estrago que pudesse causar nas bilheterias futuras (ainda faltam 02 filmes para encerrar a saga de Harry Potter). Até pais temerosos foram aos jornais protestar contra tamanha decepção que Daniel causou nos lares tradicionais, quebrando o encanto infantil que o bruxinho mantém com seu público, ameaçaram (pasmem) proibir seu filhos de assisti-lo nos próximos filmes da série.
Logo que surgiram as primeiras imagens de divulgação da peça, onde Daniel aparece com o torso nú, e em outras completamente despido, pêlos à mostra, a celeuma tomou conta dos veículos de comunicação do planeta. A polêmica alimentada na mídia felizmente não o fez mudar de idéia quanto ao papel, ponto pra ele.

O rebuliço causado pelo anúncio de que Daniel faria parte de Equus deve-se a dois fatores: a temática sobre comportamento e sexualidade e principalmente ao fato de que há uma cena de sexo em que o rapaz (que será interpretado por Radcliffe) fica nú em cena. Um jovem alçado ao posto de ídolo mirim e cuidadosamente explorado por toda uma indústria em torno dele, tomou uma atitude corajosa em que muitos no seu lugar nem cogitariam, ainda mais numa indústria que movimenta bilhões, como o cinema e especificamente na marca Harry Potter (filmes, livros,jogos, brinquedos e toda sorte de produtos). Ao optar por fazer parte de um espetáculo de teatro num texto denso e encarnando um personagem dificílimo, a aposta que Daniel Radcliffe faz é em sua própria carreira, disposto a não ficar eternamente associado ao bruxinho e ter uma imagem pessoal de bom menino. Demonstra que está disposto em seguir uma carreira de ator a ser levada a sério, buscando bons papéis e preocupando-se em agradar primeiramente a si mesmo, e é com Equus o pontapé inicial para desvincular-se da aura adolescente que o cerca.
Equus é um texto teatral de Peter Shaffer, e levou o prêmio Tony (Oscar do teatro) na época de seu lançamento há mais de 30 anos. Conta a história de um jovem cavalariço que mantém uma obsessão religiosa e sexual por cavalos. Numa noite ele fura os olhos de 06 deles e então um juiz determina que vá se tratar com um especialista da psique humana. O texto aborda questões sobre o conceito de "normalidade" na sociedade, e explora a forma como as pessoas "extirpam" todo comportamento considerado "desviado". No Brasil e em diversos países a peça foi encenada com sucesso. Por aqui tivemos a primeira delas na década de 70 (com Paulo Autran e Éverton de Castro) e a segunda em meados da década de 90.

Também no cinema foi feita uma ótima adaptação dos palcos para a tela, inclusive o texto adaptado foi obra do autor original, Peter Shaffer , que ganhou uma indicação ao oscar de melhor roteiro adaptado por este trabalho, além de indicações aos prêmios de melhor ator e melhor ator coadjuvante em 1977. Felizmente o filme foi feito à altura do texto teatral e conta com Richard Burton no papel do psiquiatra.

Equus é uma peça que deve ser vista, além do ótimo texto, as soluções estéticas para se representar os cavalos em cena são interessantíssimas e sempre um elemento enriquecedor do espetáculo. Se você for a Londres não perca a oportunidade de assistir - a peça ficará em cartaz mais alguns meses; vale muito a pena ver o filme também (disponível em dvd) ou mesmo aguardar uma nova montagem no Brasil, notícia que foi anunciada algumas semanas atrás por produtores do eixo Rio/São Paulo, que já estão se movimentando para levar Equus aos palcos novamente no Brasil.

obs.: Equus = cavalo (Latim).

A foto



Kumi, Los Angeles, 2003.
Por Geoff Cordner.

quarta-feira, 21 de março de 2007

Vai com calma, Ariano.


A mais recente polêmica discutida em blogs, comunidades do Orkut e na própria imprensa em geral é a declaração do secretário de Estado (Cultura) Ariano Suassuna. Conhecido por declarações que já fazem parte do folclore do escritor, como ser radicalmente contra Michael Jackson, Chico Science, Beto Carrero, Moraes Moreira, Lírio Ferreira e qualquer manifestação artístico/comercial que não utilize elementos genuinamente brasileiros da cultura popular. A bandeira que Ariano prega é a do Movimento Armorial, que abrange a música, poesia, literatura, escultura e diversas manifestações de origem popular; permeado por uma espécie de "erudição".
Bom, depois de uma breve introdução vamos aos fatos: Numa aula-espetáculo, na última sexta-feira, Ariano disse que "o compositor da música Pra Te Conquistar, da Banda Calypso, era idiota e imbecil".
Deve-se respeitar Ariano Suassuna pelo que representa em nossa cultura, especificamente como autor literário mas também como pensador, mestre e mesmo pela longevidade alcançada, mas não concordo com tamanha asneira dita por ele.
Pra começar, deveria portar-se como o cargo que ocupa exige - chamar alguém de forma tão grosseira publicamente, sendo uma pessoa pública e responsável pela política cultural é depor contra si mesmo. Afinal, Ariano Suassuna comanda todo um trabalho de incentivo, patrocínio, divulgação e oferta de bens culturais.
Será que o Movimento Armorial é a única coisa que valha dentro da cultura, ao lado de manifestações ditas "típicas do Brasil"?? Ora, não deixa de ser um raciocínio "simplista" (conforme alguém gritou na hora), ou mesmo uma forma de elitização? Sim, pois se fechamos o cerco ante os princípios dos armorialistas encontramos algumas coisas paradoxais. O frevo, por exemplo, ritmo pernambucano tão característico tem ecos originários dos Estados Unidos. Se pensarmos que em Nova Orleans, berço do jazz, utilizava instrumentos de sopro para rechear o compasso, tal qual o frevo que se utiliza de sopros, estes, certamente, não são produto nacional brasileiro. E quando surgiram os bailes de carnaval, no início do século XX (tal qual vemos hoje) eram frequentados pelas classes A e B, incluíndo aí os primeiros autores de marchinhas. Devemos apenas valorizar a arte que Ariano prega em suas aulas-espetáculo?
Pergunto-me se, por exemplo, o povo de Pernambuco gostaria que todo evento cultural público que houvesse no estado fosse de cunho armorial. Imagino que as pessoas não gostariam de verem sendo privadas de acompanhar outros ritmos populares, aí incluindo violeiros, cantadores, Calypso, Zezé Di Camargo...
O Brasil é um país miserável por um lado e extritamente popular. O povo, que é deixado à margem de tanta coisa (que seria obrigação), transforma e cria seus ritmos que refletem a nós mesmos. Sim, somos bregas! Somos populares! Se assim fica mais claro.
Calypso é uma das bandas mais populares do Brasil atualmente, ao lado de outros que são execrados pela nossa "elite". Tirar o mérito de um compositor popular como Chimbinha, que com sua música arrasta multidões país afora é ficar cego ao que somos. O calypso, como ritmo, é originário (em se tratando de Brasil) do Pará. A quantidade de pessoas que compra os discos, vai aos shows é imensa. Este público é genuinamente brasileiro e se vê refletido em suas músicas. Como exigir de um país de populares (como se diz tanto por aqui), sem acesso à educação que eles estão errados em gostar de Calypso? Palmas ao compositor e a Joelma, cantora da banda; as músicas falam diretamente com esse Brasil que muitos preferem ignorar. Não quer dizer que esse público não possa ter acesso à música erudita, aos ditos "compositores e artistas de raiz", etc. Será que Ariano seria contra as marchinhas de carnaval como mamãe-eu-quero tão populares na década de 20/30?
Definir o que é genuinamente brasileiro é algo difícil, chamar de idiotas artistas de brega, funk, sertanejo, pagode e outros "malditos" como faz Ariano é subestimar uma cultura tão genuína quanto um tocador de rabeca.
Ninguém é obrigado a gostar, claro, eu mesmo não gosto nem de longe da banda Calypso, é um estilo musical que não me agrada, nem por isso deixo de reconhecer o valor que eles têm. Ora, se o filme mais assistido de 2005, Dois Filhos de Francisco, levou um público recorde para o cinema nacional, isso diz muita coisa do que somos e de nossa formação, deixando de lado um bom roteiro como responsável único pelo sucesso. O Brasil de raízes rurais, o Brasil do povo (aquele que é feio e incomoda), viu-se no cinema.
Como não enxergar com naturalidade e respeito o funk? As favelas cariocas são um mundo de excluídos (aliás, todas as favelas), permeado por violência, sexo, linguagem chula, mas também de um povo que consegue ainda ser feliz; que vai no Baile Funk Brasil afora e canta a plenos pulmões músicas que falam daquilo que vivem. Podem conhecer outras formas de cultura? Claro que podem, mas não se pode fechar os olhos pra cultura própria dos morros.
Ariano Suassuna é arrogante sim, quando chama Chimbinha de idiota. Está se dirigindo pra toda um povo que vai aos shows, compra os discos, fica feliz em casa com o rádio ligado numa rádio AM. Este mesmo povo que vai num concerto de Antônio Nóbrega em pleno Marco Zero, centro do Recife. O que dizer de um ídolo popular como Roberto Carlos? que no início da carreira sofreu preconceito dos colegas bossanovistas e é há décadas um ícone da música nacional. Chico Science errou ao utilizar guitarras com o maracatu? E toda essa geração ávida em ouvi-lo até hoje e que a partir dele conheceu um maracatu de baque solto?
A cultura de um povo é feita de interferências, associações e diferentes linguagens que vão se incorporando e fazendo espelho as suas próprias raízes. A cultura jamais será extinta, mas poderá ser carregada de novas referências. Assim como os tocadores da banda de Pífanos de Caruaru são de uma beleza e verdade, assim como a literatura de cordel sobrevive no seio do povo, temos um Maestro Spok que insere elementos de jazz no frevo e arrebata multidões no carnaval, bem ao lado das troças e côco de roda.
Ariano meu velho, o Brasil é tão rico e verdadeiro quanto um tocador de viola, uma Fafá de Belém, um Chico Buarque, etc. Somos um país multicultural, desde a época da colonização, achar que uma manifestação popular se resume aos seus conceitos que restringem nossa cultura é uma visão injusta.

Obituário

Morreu na manhã desta quarta-feira 21/3, o produtor musical e empresário artístico Guilherme Araújo. Ele foi criador de eventos como Gala Gay, além de ter sido empresário de nomes famosos da MPB como Caetano Veloso, Maria Bethânia, Ney Matogrosso, Raul Seixas Gilberto Gil e Gal Costa. Guilherme, 70, era diabético.

domingo, 18 de março de 2007

vídeo - Campanha de Trânsito (França)


Pegando carona com o texto anterior (não é trocadilho), este vídeo feito na França como parte de uma campanha de trânsito. Vai direto ao ponto.

sábado, 17 de março de 2007

O Sinal


Madrugada de sexta para sábado. Em meu quarto aguardo pacientemente o final de um download enquanto navego internet adentro. A televisão já estava desligada e mais alguns minutos eu iria dormir.
Pancada seca, freada e o barulho assustador de ferro, metal e vidro retorcendo e quebrando, repetidamente. Dou um pulo e já estou na janela, que fica de frente pra Avenida Conselheiro Aguiar; sete andares abaixo vejo um pálio de cabeça para baixo, ainda balançando; à sua frente, um fiesta e outro pálio parados no meio da rua.
Começam a parar diversos taxistas; aparecem pessoas nas janelas; descem pessoas à calçada; gritos. Se já não bastasse o acidente em si, começa uma briga feia. Do alto eu não entendia exatamente o porquê da briga, mas foram socos, pontapés e até um "voadora". Acusações de ambos os lados. "-olha o que você fez, seu irresponsável! E agora? Um dos homens exaltados leva um soco e cai sentado no chão, bem em frente a um carro que vinha vagarosamente pela faixa liberada. Foi por pouco.
Quando finalmente consigo falar com a polícia pelo telefone, resolvo descer. Haviam uns 15 moradores do prédio lá embaixo, inclusive meu pai. Quando chego à calçada, há um homem recostado num portão, mão enfaixada com uma camisa e sangue em volta. Ele gemia e alguém conversava com ele. Já haviam se passado entre 10 e 15 minutos do acidente e nada da ambulância chegar. Dentro do Pálio de cabeça para baixo, saíam da janela os pés de um passageiro ferido, não cheguei perto pra vê-lo lá dentro, mas estava consciente; um homem conversava com ele, "fica acordado hein?" - diz ele,"- eu sou médico, fica calmo".
O que me chamou atenção é que apesar de haver chegado um carro da polícia, nenhum dos policiais conversou com o ferido dentro do carro, e nem sequer isolou a área em volta.
O homem que estava no chão levanta-se com dificuldade, ajudado por outra pessoa.
- Rapaz, fica aí no chão deitado...você não sabe o que pode ter acontecido com você... - diz um homem, identificando-se como médico. - Depois você tem uma lesão aí na coluna...vai saber. - comenta o médico, desaprovando-o. As pessoas olham e o ferido sai andando pela calçada sem dar atenção. "Ele tem plano de saúde" - diz alguém. "É funcionário da caixa." - diz outro.
Como se já não bastassem os 03 carros acidentados no meio da rua, param outros carros de curiosos em geral e muitos taxistas. Reparo que praticamente todos os carros que param e as pessoas descem, todas são homens. Eles andam em volta da cena , conversam, apontam a lataria amassada. Parece-me que tem uma necessidade de "atestar" quem errou, quem fez o quê.
Mas o grande responsável pelo acidente, este sim, todos nós já sabíamos. Era o motorista do Fiesta, completamente embriagado. Mal conseguia falar:
"-Fui em quem fiz isto?" - Diz o culpado, entre o riso e o choro.
"Mas rapaz...que merda" - continua, como se estivesse falando de outra pessoa.
Finalmente chega uma ambulância, mais de 20 minutos depois. Com ela também chegam bombeiros e um carro da perícia trazendo um perito e um fotógrafo. Mais curiosos chegam, carros param, somente homens.
"- olha, eu vinha numa boa, e aquele ali ó, que está alterado ,embriagado, veja o estado dele..." - diz uma mulher seguindo um perito. Ela é a motorista do segundo Pálio, que foi fechado pelo bêbado e que quase também bateu com o outro que capotou.
As pessoas chegam mais perto do carro capotado. Bombeiros e paramédicos pedem a colaboração para que todos se afastem. Rapidamente tiram um senhor ferido de dentro e o levam para ambulância. Chegam pessoas em volta, cercando o veículo de socorro.
A polícia não interdita a rua. Passam vários ônibus, todos diminuem a velocidade para contemplar a cena. Um deles traz um gupo tocando pagode, todos se levantam, olham, falam, o pagode continua.
O ferido retirado do carro recebe os primeiros socorros. Chega um homem bêbado e puxa conversa com as pessoas que estão na calçada, explicando:
"pois é...olha aí. Essas coisas né? Tá tudo muito ajeitado, o homem não morreu não." - diz o sujeito que acabara de chegar.
"Essas coisas quando tem que acontecer né? A gente num escapa...olha aí, mas graças a deus ele tá aí... - continua a explanação.
"- tá tudo em paz com ele, minha gente. Foi difícil mas tá tudo bem agora. Essas coisas são assim..podia ser pior né?"
A ambulância sai. Continuam muitas pessoas no local, o bêbado continua dizendo suas "teses"; as pessoas ouvem impacientes. O outro bêbado, este o motorista causador de tudo, conversa com a polícia e com a moça do outro carro. Pergunto-me como é que não levam o desgraçado logo pra delegacia e o prendem, afinal ele estava embriagado e quase matou várias pessoas. Porque não fazem o teste do bafômetro? "porque é poibido po lei...não pode fazer." - diz uma moça presente.
Resolvo ir embora. Muita gente ainda permanece ali. Chamo meu pai pra ir comigo e vamos com mais alguns outros moradores subindo as escadas do prédio.
"- 22...16..."
"o que é isso, pai?" - pergunto.
"vou jogar na milhar amanhã, pode dar sorte"
"HEIN?"
"É a placa do carro...nunca se sabe né?"

Uma hora depois vou à janela, já está quase terminando a madrugada. Haviam algumas pessoas na cena do acidente. Vou dormir.

quinta-feira, 15 de março de 2007

Omissão é lícito?


O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) da seccional do Rio de Janeiro, Wadih Damous, defendeu nesta sexta-feira a legalização das drogas. Para ele, a proposta apresentada pelo governador Sérgio Cabral é válida para tentar coibir a ação de traficantes. (www.terra.com.br - 02 de março.)

O governador do Rio, Sérgio Cabral, deu um importante passo com a proposta de se colocar em discussão a questão da legalização das drogas. Aliás, este posicionamento sobre uma questão social e polêmica já é digno de nota por parte de Cabral, visto que no Brasil nossos representantes públicos não têm o hábito de demarcarem suas posições, de levantarem questionamentos importantes para a sociedade e muito menos de levantarem bandeiras "polêmicas", como a legalização do aborto, a questão da união civil para os homossexuais, a própria legalização das drogas, morte assistida ou mesmo a eutanásia, só para citar os mais lembrados. Político brasileiro que se preza não discute e nem assume bandeira "espinhosa" nenhuma. Alguém já viu algum destes temas sendo debatidos e tomando espaço nas propostas políticas? Não há. O máximo que chegam neles são em debates entre candidatos - e isso porque o mediador é quem faz a pergunta. De resto, todos nós sabemos que as discussões se resumem em troca de acusações, dossiês...etc.
Portanto, um governador levantar esta questão já é um grande feito. Reparem se isso levantou alguma discussão em Brasília? Há alguma comissão de notáveis, autoridades e cidadãos convidados a discutirem esta questão lá no congresso? não.
O Rio de Janeiro há muito está em guerra civil, não há exagero aqui. Numa cidade em que milícias assumem o poder matando os rivais, estudantes são fuzilados em porta de escolas, policiais são mortos toda semana, o poder bélico dos traficantes é melhor que o da própria polícia, morros são ocupados por bandidos que ameaçam, matam e impõem governos paralelos e a cada dia dezenas são mortos de ambos os lados, não vejo outra definição mais apropriada do que guerra civil.
Já fui terminantemente contra legalização até pouco tempo atrás. Mas a questão das drogas nas cidades como um todo (e fora do Brasil também) é algo alarmante. A violência cotidiana está diretamente inserida no tráfico. Somada à miséria deste país, encontrou o cenário perfeito para expandir-se e entrincheirar-se nos morros e favelas do Brasil. Os bandidos estão com todo o sistema de produção e distribuição, o governo não consegue andar muito aí pois a sociedade é usuária de drogas tanto quanto consome álcool e cigarros, estes, já inseridos cordialmente em nossas salas. Maconha virou banal, a qualquer hora se consegue e a própria polícia faz vista grossa, quando não aproveita para extorquir e chantagear quem é flagrado fumando um baseado. Difícil imaginar pessoas deixando de fumar maconha, cheirar cocaína e outras coisas mais quando nem cigarro, que é liberado, as pessoas deixam. É uma questão social e também de saúde pública, jovens morrem diariamente vítimas da violência direta e indireta, balas perdidas, atentados, execuções, é só abrir o jornal.
Mas a discussão levantada pelo Sérgio Cabral veio num momento bastante peculiar, quando estamos todos ainda sob efeito da morte de João Hélio, dos ônibus queimados com pessoas dentro, dos estudantes baleados...enfim, um juiz até abriu a boca pra chamá-lo de oportunista, quem dera se os juízes do Brasil abrissem sempre a boca para falar de outras coisas tão relevantes neste país e que eles poderiam ajudar a mudar, como o próprio sistema judicial lerdo e ineficiente.
Tomara que a discussão não seja esquecida, ainda que nem de longe já tenha entrado em pauta. Mas é um problema que não deveria ser ignorado. Embora a maior parte da sociedade, pelo pouco que sei, seja contra a legalização.
Politicamente esse assunto é um outro tabu, visto que a própria ONU se posiciona abertamente contra (e o Brasil é signatário). Os EUA não querem nem ouvir falar disso, ainda mais vindo de uma país latino-americano, visto que é deste continente que boa parte da droga consumida na América vem.
Outro aspecto importante do que seria a legalização das drogas por aqui, é que num país como o Brasil não é difícil imaginar que o controle seria ineficaz por um lado. Se adolescentes compram cigarro e cerveja com facilidade apesar de proibidos por lei, é bem plausível antecipar que certamente veríamos o mesmo com as drogas legalizadas, o que torna o debate ainda mais espinhoso.
Mas o grande mérito é fomentar esta discussão, e congratulações ao governador do Rio por ter assumido uma posição, seja ela qual for. O que não dá é ficar omisso e continuarmos perdendo essa batalha todos os dias.

Obituário

Cartunista Yvan Delporte, pai dos Smurfs, morreu aos 78 anos, não foi divulgado a causa mortis. Dia 06 de março em Bruxelas.

Tudo é muito normal

Lula está finalmente anunciando os novos ministros. O poder realmente transforma as pessoas, e mudam-se posturas de um dia para o outro. O novo ministro da agricultura, que é do PMDB (qual o compromisso do PMDB ao longo da história, senão com ele mesmo?) é simplesmente o maior produtor de soja deste país. Além disso, tem dois processos nas costas tramitando (a passos de tartaruga, claro) no STF: um por crime de responsabilidade e outro por falsidade ideológica. Como se já não bastasse currículo digno de ministro de estado, o distinto tem dívidas não pagas no Banco do Brasil.

segunda-feira, 12 de março de 2007

Casinha Branca



"Mas esse negócio de diva é novidade que vocês (aos jornalistas) inventaram de um ano para cá. Ninguém me chama de diva. Me chamam de rainha, poderosa, abelha rainha, não sei o quê... Mas diva não sou eu. No lançamento de "Alteza" (81), fizeram um trono para eu sentar. Era cilada, sentei no chão."

Folha de S. Paulo, 2001.

A força que nunca seca


E então haviam grandes nuvens. Carregadas e cinzentas ocupavam todo um céu; ouviu-se um som vindo de longe, como que um vento; então o barulho de um trovão seguiu-se e logo clarões no espaço tomado de nuvens relampejaram, iluminando o palco. Do escuro ouvimos a voz e uma silhueta; mais clarões refletiram por todo o céu e vi a silhueta caminhar e subir uma pequena rampa num canto à frente do público. Um facho de luz incide diretamente revelando-a soberana: Maria Bethânia está no palco, o público vem abaixo.
O impacto da abertura do show descrito acima e que assisti no sábado é causado não apenas pelo belo cenário e efeitos de luz, mas principalmente pela própria figura de Bethânia. Da primeira à última música é impossível tirar os olhos dela e a carga dramática de sua interpretação é o fio condutor do espetáculo. O roteiro do show é focado nos 04 elementos: água, fogo, ar e terra mas principalmente na água, tema central de disco duplo lançado há pouco.
Não são todos os artistas que se entregam de corpo e alma a uma platéia. Assistir um show de Maria Bethânia é ver, e ouvir, uma artista entregue a seu público e sendo levada pelas canções que são entoadas durante o espetáculo. Uma artista popular, no sentido de falar uma linguagem própria de um povo. Acho que é esse o ponto principal dela como cantora, o repertório de seus shows nos levam a um Brasil que carregamos em nossas lembranças, mesmo que não conheçamos determinadas canções, no momento em que são cantadas irremediavelmente lembramos de algo que guardamos. Uma memória afetiva que me levou à infância, aos meus avós, às árvores das brincadeiras de criança; aos rios, cachoeiras e todo esse país interiorano que mesmo vivendo a vida inteira numa cidade, sabemos onde fica e onde nos toca. Essa nação passional e festiva, de alegrias e tristezas.
No show quase não há intervalos entre as músicas; em grande parte são cantadas numa sequência sem interrupções, o que permite a ela valorizar nuances dramáticas em cada momento do espetáculo. As poesias que ela declama pontuam o roteiro do show e valorizam o que virá em sequência, e a platéia ouve atenta, em silêncio. O microfone, com fio (sempre), é uma extensão da própria cantora, transformando-o em elemento cênico, assim como os cabelos que ela ajeita ao sabor das canções. Descalça, livre, ela corre, senta, emociona-se, deita-se e provoca. É uma artista que se entrega por inteiro, e nós que a assistimos, saímos emocionados.

obs: créditos das fotos: http://fabioleal.multiply.com/photos/album/7

Balada do Lado Sem Luz



Década de 70. Maria Bethânia dá o tom exato de drama na interpretação dessa bonita canção.

sexta-feira, 9 de março de 2007

Sublinhando



Vou frisar aqui uma informação do último post:

Pra reformar o estádio do Maracanã (jogos do PAN) foram consumidos 232 milhões de reais. Para construir o estádio de Leipzig (Copa da Alemanha) - ou seja, começar do ZERO, foram consumidos 244 mihões de reais.

O meu, o seu, o nosso...

Lula assinou no Rio de Janeiro há 02 dias atrás a liberação de 100 milhões de reais para complementar os gastos com as obras do Maracanã.
A farra de gastos continua, aliás, como é de praxe neste país: gasta-se muito e o rombo fica pra ser "consertado" depois (e olhe lá). Revoltante e vergonhoso neste país como o dinheiro público é utilizado sem parcimônia. Enquanto isso os pobres continuam na miséria.
Trecho do editorial da Folha de S. Paulo de hoje, e que resume bem a visão de nossos homens públicos na questão da responsabilidade no uso da verba pública e na incrível capacidade brasileira da multiplicação dos orçamentos.

"Como explicar, por exemplo, que a reforma do Maracanã, orçada em 2005 em R$ 75 milhões, já tenha consumido R$ 232 milhões? É dinheiro o suficiente para erguer estádios moderníssimos. O de Leipzig, usado na Copa da Alemanha de 2006, saiu por R$ 244 milhões.
Mesmo que as obras no Rio não escondam nenhuma malfeitoria, devem ser cuidadosamente estudadas, a fim de que erros tão grotescos de planejamento não voltem a repetir-se. Na melhor hipótese, R$ 3,2 bilhões por um estádio novo, outro reformado, uma vila olímpica e pouco mais é um preço extorsivo."


Esse país não muda.

quinta-feira, 8 de março de 2007

Microfone

“Essa exposição hoje demasiada está mudando o comportamento de toda uma geração de artistas. As pessoas não saem mais. A vida está ficando esquisita. A grande coisa da profissão é você ter liberdade. Está chato. Já pensei em largar a profissão por isso e tenho colegas que estão pensando seriamente. Você não pode ir à praia no Leblon que sai na capa da revista de sunga. Não posso sair três dias com uma garota, que sai numa capa que encontrei meu grande amor. Agora, para namorar, tem que ter muita certeza. Tudo tem grandes conseqüências. Seu porteiro te dá os parabéns pelo seu grande amor. O cara do posto de gasolina fala: ‘Pô, finalmente encontrou’. E você fala: ‘O que é isso, cara?’”
Fábio Assunção, ator.

Popstar



É impressionante ver como a mídia de uma forma geral está cobrindo a chegada de George Bush ao Brasil. Ok, ele é o homem mais poderoso do mundo, odiado pela grande maioria dos habitantes deste planeta e tem a chave do cofre. Mas há uma semana que os canais de tv, mídia impressa, sites da internet só falam disso. E se fosse apenas a questão política dele estar por aqui ou mesmo o esquema de segurança típico dos americanos (chega a ser patético obrigarem academias de ginástica a suspenderem aulas), vemos matérias sobre a comida que será servida, o tamanho do avião presidencial e suas mordomias, o número de assessores, o que ele avistará do alto da janela do hotel, as acomodações climatizadas dos 03 cães da raça pastor alemão da equipe de segurança(com ração trazida dos EUA) e até a suíte presidencial que ocupará. Sim, jornais noticiaram o tamanho do quarto, a cama king-size, a banheira de hidromassagem (incluíndo tv 14 polegadas) e o cartão magnético de acesso. Fico me perguntando se há algo de anormal num presidente se hospedar numa suite presidencial, porque do jeito que matérias pipocam sobre o tal aposento na certa esperavam que o Bush pedisse uma suíte standard.
É, o show já começou.

quarta-feira, 7 de março de 2007

Obituário

O Capitão América, o herói das histórias em quadrinhos com uma predileção por roupas justas nas cores vermelha, branca e azul - as mesmas da bandeira americana - morreu aos 89 anos, baleado em Nova York, sem deixar esposa ou filhos.

O Brasil

Pan-Americano modifica projeto original e "estoura" contas públicas
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da Folha Online

Considerado um evento essencial para a pretensão brasileira de organizar a Olimpíada, os Jogos Pan-Americanos 2007 "sugarão" pelo menos R$ 3,2 bilhões dos cofres públicos. O dinheiro desembolsado pelo governo federal, inicialmente previsto em R$ 138 milhões, se multiplicou quase por 11 e hoje chega a R$ 1,5 bilhão --segundo valor atualizado pelo ministro do Esporte, Orlando Silva, o montante chegaria a R$ 1,65 bilhão.
A verba do Estado passou de R$ 31 milhões para R$ 500 milhões, e a do município foi de R$ 239 milhões para R$ 1,2 bilhão.

* Já pensou se esse dinheiro fosse utilizado em programas sociais? Ou na reaparalhegam da polícia carioca? Que tal em reformas nos hospitais públicos? As escolas estão todas estalando de novas heim? Creches? Aaahh, mas dizem que o PAN vai trazer divisas para o Rio não é? Turistas, melhorias...ok, o resto que se dane.

terça-feira, 6 de março de 2007

Autoretrato



Sou do Rio de Janeiro por acaso e Pernambucano de fato. Amo o rio de Janeiro. Tenho dificuldade em dizer não. Gente careta me entedia. Tenho péssima memória para nomes. Eu amo música. Uso a mesma camisa preta há três anos. Cozinho quase nada e gostaria de saber mais. Odeio berinjela. Amo Madonna. Já fiz coleção. Adoro ajudar meus amigos se algo estiver a meu alcance. Sou rápido para revidar. Adoro cores. Não tolero burrice de gente que trabalha comigo. Sou pontual. Jogo lixo no lixo. Torro dinheiro com dvds. Detesto gente sem humor. Às vezes dou esmolas. Amo Kid Abelha. Reclamo muito. Sei pedir desculpas. Compro roupas pela cara. Guardo mágoas. Adoro bichos. Não ligo pra dinheiro. Moro em Boa Viagem em um apartamento há mais de vinte anos. Ouço música todos os dias impreterivelmente. Adoro dançar. Amo Lucian Freud. Não suporto a síndrome ultra fashion. Detesto quinquilharias. Amo Andy Warhol. Gosto de dormir. Preciso ficar sozinho. Gosto do Jack Nicholson. Torço pelo Brasil. Não sei jogar cartas. Adoraria fazer um filme no cinema. Gostaria de jogar tênis. Adoro livros de fotografia. Bebo coca-cola demais. Gosto de ar condicionado. Minha mãe me abandonou. Sou ansioso. Não gosto de roupa verde. Amo filmes de terror. Não sei tocar nenhum instrumento. Toco com os dedos o tempo todo. Tenho pés lindos. Meu pai me subestima. Não tolero desperdício. Detesto religião imposta. Amo Vik Muniz. A Índia não me fascina. Evito dentista. Sou muito inseguro. Adoro a Rainha da Inglaterra. Amo meu irmão com todas as minhas forças. Gente cafona me diverte. Nunca soube o que fazer com as mãos na presença de celebridades. Ainda espero um amor de verdade. Adoro Marília Pêra. Adoro comida mexicana. Não vivo sem chocolate. Tenho necessidade de ser pai. Durmo bem mais do que gostaria. Adoro gente que ri mesmo na desgraça. Detesto gente que olha de cima a baixo. Gosto muito de avião. Não gosto de mistério. Desprezo gente deslumbrada. Adoro vermelhos e rosas. Simpatizo com marginalizados e excluídos. Parei de fumar há 05 anos. Não tenho superstição alguma. Amo Renato Russo. Nunca quis aprender a dirigir. A imagem mais antiga que tenho na memória é minha mãe. Não gosto de gente esnobe. Adoro minhas mãos. Adoro rir de mim mesmo. Sou perdido por gente doida. Amo Alexandre Herchovitch. Detesto velharias. Desprezo gente que se leva a sério. Adoro aristocratas. Não sei viver sem macarrão. Sou bastante desatento. Quero muito conhecer o Amazonas. Coloco farinha no macarrão. Tenho inveja dos elefantes. Amo Marilyn Monroe. Adoro as cores de Olinda. Adoro a comida da minha tia. Tenho horror às baratas. Detesto gente posuda. Tenho tesão pelo Tuca Andrada. Quero fazer sexo com um estrangeiro. Minha mãe de criação me rejeitou. Amo gente espirituosa. Tenho algumas paranóias. Adio as coisas até o limite. Calço 43. Acredito em horóscopo. Adoro vinho. Não sei andar de patins. Adoro o Michael Moore. Eu quero os rios do Recife navegáveis. Adoro ficar de papo pro ar. Amo os filmes do John Waters. Gente culta me fascina. Adoro vestir preto. Não suporto o Galo da Madrugada. Adoro Caravaggio. Amo meu pai. Eu sempre tento ser atencioso. Eu gosto de ir a shows. Adoro cantar. Eu não durmo em avião. Sou péssimo em matemática. Adoro rever minhas fotografias. Sou vaidoso demais. Nunca esqueci um ex-namorado meu. Amo São Paulo. Adoro óculos de sol. Eu não gosto de me ver no vídeo. Amo a turma da faculdade. Adoro relembrar o passado. Adoro suco de manga. Ainda terei um móbile. Meus amigos são tudo pra mim.Dizem que eu mudo muito.

domingo, 4 de março de 2007

Vídeo - comercial do Clio.



Vale a pena dar uma olhada. Divertido, inteligente, simples.

Dois em um

Deu na Folha de São Paulo: a Câmara dos Vereadores de São Paulo voltou a discutir a criação do Dia do Orgulho Heterossexual, projeto do vereador Carlos Apolinário, do PFL, candidado ao governo nas últimas eleições.
Se a Câmara aprovar o projeto, ele será levado ao prefeito Gilberto Kassab, que pode sancioná-lo ou vetá-lo, como fez no começo de fevereiro com o projeto de lei que penalizaria atos discriminatórios no município de São Paulo.
A proposta do Dia do Orgulho Hetero foi aprovada por duas comissões da Câmara. Agora só falta ir a plenário.
Se aprovado na Câmara e sancionado pelo prefeito, o Dia do Orgulho Hétero será no terceiro domingo de dezembro.

O que pode parecer cômico e/ou surreal esconde uma questão muito mais importante: a crescente busca de espaço e afirmação dos gays perante a sociedade da década de 90 pra cá incomoda muita gente e das mais variadas formas. Projetos como este do nobre vereador citado acima são apenas a ponta do iceberg. Buscar direitos civis legítimos não é tarefa fácil e vivenciar isto no presente, acontecendo agora, dá um misto de apreensão, medo e coragem. A homofobia, assim como todos os preconceitos disfarça-se de diferentes maneiras e está presente em nosso cotidiano. Uma proposta como essa deveria ser tratada com a mesma indignação se alguém se propusesse a criar o "dia do orgulho branco", por exemplo.

A MTV anunciou sua nova programação, uma das novidades será o novo programa de Marcos Mion. Eis o que diz a emissora num boletim informativo:
"Com uma hora de duração, o "Mucho Macho", exibido as quintas (22h), é apresentado por Marcos Mion e destinado ao público masculino --com análises de videoclipes e seu índice de "macheza"."
Gostaria sinceramente de congratular o gênio da televisão que teve a brilhante idéia de formular um programa estúpido como esse. Há duas semanas um professor foi espancado em São Paulo num ataque homofóbico, teve deslocamento do maxilar, uma costela quebrada, um braço quebrado e escoriações por todo o corpo.

And the Oscar goes to...

Muita gente não sabe como funciona a votação que elege os vencedores do OSCAR. Pois bem, os escolhidos são votados pelos membros da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas. Não apenas os atores mas também técnicos têm direito a escolherem seus favoritos. A Academia envia para cada um de seus membros, cédulas contendo os nomes dos indicados; este ano foram enviados 5.830 envelopes lacrados aos membros que fazem parte dela e todos votam APENAS nos indicados em suas áreas, assim, os editores votam na melhor edição, atores escolhem os melhores entre seus pares (inclusive coadjuvantes, de ambos os gêneros), profissionais de som votam nos indicados em efeitos sonoros e assim por diante. A exceção fica no Oscar de melhor filme, categoria em que TODOS os membros votam, bem como filmes estrangeiros que (se não me falha a memória) só têm direito de votar os que assistem as películas em exibições organizadas pela própria Academia aos seus membros. Tudo isso é acompanhado por uma empresa de auditoria que fiscaliza e tem guardados os envelopes com os ganhadores até o dia da premiação.
Brasileiros também fazem parte desse grupo seleto, e recentemente lendo o blog de Augusto Amorim eu soube dos nomes, os quais reproduzo abaixo em trecho do blog citado:
" Entre esses brasileiros estão a atriz Sonia Braga; os diretores Hector Babenco, Fernando Meirelles e Walter Salles; os diretores de fotografia Eduardo Escorel e o uruguaio-brasileiro Cezar Charlone; o montador Daniel Rezende; o roteirista Bráulio Mantovani e o animador Carlos Saldanha. Não se sabe ao certo o número exato de brasileiros (a Academia não costuma tornar público quem são seus membros, mas supõe-se que, além desses, a atriz Fernanda Montenegro, indicada à melhor atriz em 1998 por "Central do “Brasil”, também faça parte da instituição)." - blog Augusto Amorim