sexta-feira, 23 de fevereiro de 2007

LIKE A PRAYER - 1989



Tenho alguns discos que são muito importantes pra mim. Não apenas pela música em si mas por ter me acompanhado em determinado momento da vida e ter sido decisivo em um ou vários aspectos do que eu era e gostaria de ser.
De todos os discos de Madonna este foi para mim emblemático. Gosto de muitos outros dela, uns mais outros menos, mas este tem um significado pra mim que até hoje quando escuto fico imerso no som, na voz dela, nos arranjos, na mensagem.
O ano era 1989, eu com meus 16 anos dentro do turbilhão que foi minha adolescência solitária e enfrentando os conflitos típicos de um garoto na minha condição. Colocar Like a Prayer no toca-discos do meu quarto foi uma experiência inesquecível. Lembro que minha avó deu-me o disco de presente, num passeio ao shopping. Quando chegamos em casa era noite e por ela estar hospedada lá no meu quarto tive que dormir sem ouvir o tão desejado disco. No dia seguinte ainda fui à escola pela manhã também sem toca-lo, somente na volta, tranquei-me no quarto e pus a agulha sobre a primeira faixa do lado A (este ritual era mágico) ansioso pra ouvir o que sairia dali.
Lembro-me como se fosse hoje, eu deitado na cama com a capa nas mãos. O disco tinha uma mistura em sua cola com aroma de patchouli, para que o "cheiro de incenso" ficasse no ar, e ficava mesmo. Meses depois de tê-lo adquirido ainda exalava o aroma profano.
O disco abre com Like a Prayer, música que sem dúvida é uma das maiores canções pop já feitas, considero-a a "Billie Jean" de Madonna e dificilmente alguém fica indiferente a ela. Você pode não gostar de Madonna, mas essa canção levanta até defunto, com o perdão do trocadilho. A introdução da música com as guitarras distorcidas, seguidas de um rompante sonoro dá lugar ao som litúrgico de uma igreja, abrindo caminho pra voz de Madonna, doce e emocionada: "Life is a Mistery...".
A letra de Like a Prayer é dela. Há uma dubiedade que não é esclarecida (o que a torna ainda mais legal) se a letra fala da relação direta dela com Deus ou se refere a uma relação homem x mulher. A música vai num crescendo, como que buscando uma catarse, levando todos pra uma redenção divina...mas que também poderia ser sexual. O vídeoclip da canção é um capítulo à parte, mas basta dizer que há uma unanimidade de que é um dos mais importantes vídeos da música pop.
O nível de maturidade artística que Madonna alcançou com Like a Prayer é ainda mais emblemático por se tratar de seu quarto disco. Enquanto outros artistas levam muito mais tempo ou se repetem numa mesma fórmula durante anos à fio, até caírem no esquecimento. De qualquer forma há uma analogia na letra que remete ao erótico e também à relação de submissão e adoração católica. A Igreja, é claro, esperneou.
O arranjo é de Patrick Leonard, perfeito. Os versos são quase que declamados por Madonna, e quando se chega ao refrão entra uma batida funkeada, puxada pra soul music; incendeia qualquer festa.
Com este disco Madonna embarcava na sua própria intimidade. Falava da mãe (Promise To Try), da relação conflituosa com o pai (Oh Father) e que tanto espelhava minha realidade dentro de casa. Em Keep It Together ela falava da família, Till Death Do uS Part escancarava o casamento fracassado com Sean Penn. Além das confissões, todas elas embaladas numa produção primorosa dividida entre Patrick Leonard e Stephen Bray, que criaram juntamente com MADONNA clássicos pop como Cherish, Spanish Eyes e Express Yourself; sem falar no dueto apimentado dela com Prince. Que mais dizer de um disco como esse?
Like a Prayer foi um divisor de águas na música pop e na própria carreira de Madonna. Se por uma lado o disco pavimentou a sonoridade pop do fim da década de 80 e início dos anos 90, também deu a ela o respeito que ainda faltava por parte dos críticos que afirmava ser ela um mero produto fabricado. Tanto que já se vão mais de 20 anos de carreira envergando o status de ícone pop. Like a Prayer é um disco essencial pra qualquer um ligado no universo da cultura pop e que influenciou muita gente que veio depois dele. Está devidamente guardado na minha prateleira de cds e se você ainda tem reservas com Madonna, sugiro começar por este.