
Graças a Deus, Bento XVI foi embora. Católicos ou não, fomos obrigados a aguentar a mídia histérica em torno da visita do Papa carrancudo ao Brasil. Foi um verdadeiro frenesi, que me fez lembrar os cultos da Igreja Universal, cada um no seu estilo, claro.
Antes mesmo de sua chegada por aqui, os jornais vieram com todo tipo de informação: o lado político da visita, os dogmas da Igreja, o estilo do Papa, suas roupas, sua predileção por doces (confesso, fiquei com inveja das delícias que lhes foram servidas) e tudo mais que pudesse ser dito.
Acompanhei a chegada dele ao vivo pela tv, afinal, não resisto a um show. E Bento XVI até que desfez um pouco a imagem enfezada dele por aqui, mas fica muito aquém da comoção causada por João Paulo II.
Bento desceu do avião sem nem fazer uma paradinha estratégica no alto da escada, olhando a todos por cima,permitindo aos fotógrafos e cinegrafistas uma imagem "limnpa"; pelo contrário, surgiu entre a tripulação do avião e desceu as escadas apressadamente, sem dar tempo dos telespectadores saborearem o momento divino. Pisou em nosso solo, não beijou o chão, e Lula rapidamente estendeu-lhe as mãos - mas sem beijá-las. O papa anda rápido, não parece em nada com a imagem dramática que a Igreja gosta de propagar - e que os fiéis católicos têm adoração: o sacrifício, a entrega, o martírio.
Não sei se algum bispo o avisou ou se apenas a multidão postada à frente do mosteiro, entoando gritos de torcida, fez o sumo pontífice perceber que brasileiros adoram uma catarse, e, claro, as tvs também; por isso tão logo apareceu na sacada para o primeiro "aceno oficial" e a multidão enlouqueceu. Acreditem se quiser: Datena, o apresentador barra-pesada da Bandeirantes chorou em plena transmissão, eu estava assistindo. Dali por diante, apareceria diversas vezes para acenos e afagos ao povo, segundo um jornal, estavam programados umas 03 ou 04 "aparições" na janela, e Bento, empolgado, se mostrou 04 vezes mais. Era um delírio.
Isso sem falar nas ruas fechadas, no papamóvel, nas missas, nos choros, nos encontros e nas "quebras de protocolo" - quando Bento deixou-se tocar e foi ao encontro das pessoas. A Igreja Católica teve seu dia de Universal como há muito não se via.
Deixando a festa de lado, Bento não é bobo e tratou de condenar, como de costume, o divórcio, a camisinha, o aborto (e o plebiscito), os gays, etc,etc,etc. Teve até a audácia de dizer que os índios deveriam agradecer à catequisação imposta pela Igreja ao longo dos séculos, afirmando que "seria um retrocesso" não fazer isto pelos pobres índios tão necessitados de uma lugar ao céu; o céu da Igreja, diga-se de passagem.
E Lula estava indo muito bem até então. De início declarou em alto e bom som que o Estado brasileiro é laico (aliás, isso é questão de bom senso), não beijou o anel do Papa, fez-se de desentendido quando instado a adotar o ensino religioso obrigatório (adivinha qual?), dentre outros projetos trazidos de Roma; e em suma, portou-se como deve-se portar um chefe de Estado: à parte de questões de escolhas individuais.
Ledo engano. Foi só o Papa ir embora - e nesse meio tempo houve uma conversa reservada entre os dois, que 02 dias depois da sua partida Lula avisa que não vai mais propor a discussão e o plebiscito sobre a descriminalização/legalização do aborto. Deixando esta decisão para o Congresso Nacional, aquele que conhecemos bem, em toda sua honestidade, presteza e zelo público.
O que será que o fez mudar de idéia tão rápido? Talvez medo de ir para o inferno, quem sabe.
E voltamos então à normalidade. Nada de discussão, nada de mudanças, nada. Nada? Ah, eu quase esquecia! O Congresso Nacional aprovou, durante estes dias de comoção, um aumento em seus salários. E ninguém percebeu, claro...tudo continua na mesma e cada um que viva sua vida. Enquanto isso, estima-se que mais de 01 milhão de mulheres abortem no Brasil todos os anos, sem nenhum amparo público e legal.

6 comentários:
Muito bom seu blog e seus textos!
Você escreve muito bem!
E eu também não agüentava mais o rebuliço da mídia em torno do 'psicopapa', eheh!
Parabéns!
Aborto já!
Aqui no Brasil é assim, o escândalo de hoje é abafado pelo escândalo de amanhã. Como na época não havia nenhum escândalo de peso sendo divulgado. A visita do papa deu aos nossos parlamentares a chance que precisavam para aumentar seus salários abusivamente. Terá sido mera coincidência essa cobertura massiva da imprensa ao Papa? Ou uma bem-vinda cortina de fumaça?
valew pelo comentário .
muito bom teu flog,teus texto tão foda,parabéns .
abraço.
essa foto do papa,ta demais.
Tem horas que exageram.
Não aguento mais ouvir falar de papa!
=O
Estou postando com outra conta mais meu blog é o www.cocaineworld.blogspot.com
Agradeço se puder visitar!
Abraço
Ainda bem que acabou! Mas daqui a pouco teremos que aguentar a overdose do Pan do Rio. Haja mais paciência!
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