quarta-feira, 11 de abril de 2007

De dentro pra fora


Recentemente, o dono de uma mercearia no Paraná se suicidou com um tiro de revólver, aos 65 anos. A notícia chamou a atenção não pelo suicídio, mas pela revelação, após a autópsia, de que ele trazia marcas de uma cirurgia para retirada dos seios e um pênis de borracha acoplado aos genitais. Ele era mulher. Ou, para ser exato, um homem transexual.
Mulheres transexuais são bem conhecidas. Celebridades como Roberta Close ou as anônimas que brincam o Carnaval são bastante expostas na mídia. Mas homens transexuais não são muito notados.

Como o suicida do Paraná, que passou a vida como um homem qualquer, sem que ninguém desconfiasse, muitos homens transgêneros preferem esconder sua origem biológica feminina. Os que assumem sua transexualidade enfrentam preconceito e hostilidade. Muitos travestis que vemos na rua na verdade são mulheres transexuais. Na falta de oportunidade dentro da sociedade estas pessoas acabam caindo na prostituição e são execradas do convívio social. Travestis, sejam transexuais ou não, não gozam de nenhum respeito por parte dos cidadãos, carregam um estigma de párias sociais e são privados de empregos formais e da simples convivência pacífica (e tolerada) entre as pessoas. É uma percepção errada que todo travesti necessariamente está ali, na rua, vestido de mulher, simplesmente porque gosta daquela situação. Existe um grande número de pessoas que realizam-se encarnando o sexo oposto, seja por uma vontade advinda de vaidade, desejo sexual, ou pela busca interna de identificação com algo que não corresponde ao que se vê por fora; assim são os transgêneros.
Trangêneros são as pessoas que ultrapassam o gênero. Isto mesmo, as pessoas que estão "além"-gênero. São indivíduos, homens ou mulheres, que invertem a sua trajetória biologicamente "natural" , em busca de alguma(s) característica(s) secundárias do sexo oposto , que estão contidas em seu eu interior.
Certamente muita gente não concebe a idéia de que existe algo mais além do que categorizar pessoas apenas em homem ou mulher. As identidades de gênero não se limitam ao sexo masculino e feminino - como aprendemos nos livros de escola, presos às características físicas em perfeita conformidade com o interior. As variações vão mais além do que estas tradicionais.

Nos Estados Unidos, homens trans começam a expor seus corpos, sem vergonha de assumir sua dupla natureza. Loren Cameron, fotógrafo, faz exposições e publica livros retratando transexuais e seus processos de transição (inclusive o próprio). Loren começou fazendo terapias, fez mastectomia e tomou bastante hormônio masculino, seu corpo hoje à primeira vista é de um homem, másculo, sem dúvida, mas basta olhar os genitais e lá está a vagina, original de fábrica. Buck Angel é produtor de filmes pornográficos onde atua como protagonista, exibindo seu corpo másculo e seus genitais femininos. Ambos ao nascer foram registrados como do sexo feminino e assim também foram criados. Da mesma forma que Roberta Close - Loren, Buck e o comerciante do Paraná cresceram sentido-se desconfortáveis com seus corpos físicos. No caso destes 03 últimos, ser mulher externamente não era compatível com a real identidade que traziam dentro de si.
Buk e Loren reapresentam ao mundo o corpo transexual há muito tempo esquecido em nossa cultura. Afinal, não custa lembrar, nossos antepassados adoravam deuses hermafroditas.

obs.:
a foto acima não é montagem, trata-se de um auto-retrato de Loren Cameron. E lá no início do texto, a capa do livro lançado por ele.

2 comentários:

Anônimo disse...

adorei. e o auto-retrato é lindíssimo.

Anônimo disse...

adorei o tema e a forma com que foi tratado. Sem "rodeios", "mas mas" ou "dedos", como os de costume... e sim, deveríamos estudar na escola todas as identidades de gênero, assim teríamo mais educação ao invés de preconceito!
bjo