segunda-feira, 12 de março de 2007

A força que nunca seca


E então haviam grandes nuvens. Carregadas e cinzentas ocupavam todo um céu; ouviu-se um som vindo de longe, como que um vento; então o barulho de um trovão seguiu-se e logo clarões no espaço tomado de nuvens relampejaram, iluminando o palco. Do escuro ouvimos a voz e uma silhueta; mais clarões refletiram por todo o céu e vi a silhueta caminhar e subir uma pequena rampa num canto à frente do público. Um facho de luz incide diretamente revelando-a soberana: Maria Bethânia está no palco, o público vem abaixo.
O impacto da abertura do show descrito acima e que assisti no sábado é causado não apenas pelo belo cenário e efeitos de luz, mas principalmente pela própria figura de Bethânia. Da primeira à última música é impossível tirar os olhos dela e a carga dramática de sua interpretação é o fio condutor do espetáculo. O roteiro do show é focado nos 04 elementos: água, fogo, ar e terra mas principalmente na água, tema central de disco duplo lançado há pouco.
Não são todos os artistas que se entregam de corpo e alma a uma platéia. Assistir um show de Maria Bethânia é ver, e ouvir, uma artista entregue a seu público e sendo levada pelas canções que são entoadas durante o espetáculo. Uma artista popular, no sentido de falar uma linguagem própria de um povo. Acho que é esse o ponto principal dela como cantora, o repertório de seus shows nos levam a um Brasil que carregamos em nossas lembranças, mesmo que não conheçamos determinadas canções, no momento em que são cantadas irremediavelmente lembramos de algo que guardamos. Uma memória afetiva que me levou à infância, aos meus avós, às árvores das brincadeiras de criança; aos rios, cachoeiras e todo esse país interiorano que mesmo vivendo a vida inteira numa cidade, sabemos onde fica e onde nos toca. Essa nação passional e festiva, de alegrias e tristezas.
No show quase não há intervalos entre as músicas; em grande parte são cantadas numa sequência sem interrupções, o que permite a ela valorizar nuances dramáticas em cada momento do espetáculo. As poesias que ela declama pontuam o roteiro do show e valorizam o que virá em sequência, e a platéia ouve atenta, em silêncio. O microfone, com fio (sempre), é uma extensão da própria cantora, transformando-o em elemento cênico, assim como os cabelos que ela ajeita ao sabor das canções. Descalça, livre, ela corre, senta, emociona-se, deita-se e provoca. É uma artista que se entrega por inteiro, e nós que a assistimos, saímos emocionados.

obs: créditos das fotos: http://fabioleal.multiply.com/photos/album/7

2 comentários:

Anônimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

oi mau
a capa preferida do milton é milagre dos peixes de estudio
gostou do show da Bethania ? eu nao amei. achei muito regional e cameristico tenho saudade da intensidade dramatica que ela poe nas cançoes de amor.