domingo, 25 de março de 2007

Equus


"A normalidade tem um grande poder de machucar a comunidade humana como também o indivíduo, nós vivemos num mundo padronizado. Existe uma norma para tudo. Viver de forma diferente só é aceitável se vivido por um número grande de pessoas. Tentar esse caminho sozinho significa tornar-se um proscrito."
Mario Abbade, jornalista.

Ele poderia estar muito bem aguardando o início das filmagens de mais um Harry Potter, afinal antes mesmo de completar 18 anos(julho de 2007), já era milionário por seu próprio trabalho. Poderia optar por seguir a imagem de bom menino alcançado ao longo dos anos submetendo-se à papéis de bom moço em filmes água com acúcar - gênero que sempre rendeu boas bilheterias e retorno financeiro. E os produtores, estúdios e empresários certamente achariam mais seguro investir na manutenção desta imagem "positiva".
Mas Daniel Radcliffe surpreendeu muita gente ao decidir fazer parte em um texto teatral controverso e que nem de longe alguém poderia associar ao doce e esperto garoto dos filmes de Harry Potter. Diversas reportagens atestaram o espanto de gente da mídia cinematográfica, como produtores e empresários artísticos; mesmo o estúdio que detém os direitos de filmagens dos livros do famoso bruxinho apressou-se em desvincular a incursão teatral do papel nos filmes adolescentes, como que tentando reparar um provável estrago que pudesse causar nas bilheterias futuras (ainda faltam 02 filmes para encerrar a saga de Harry Potter). Até pais temerosos foram aos jornais protestar contra tamanha decepção que Daniel causou nos lares tradicionais, quebrando o encanto infantil que o bruxinho mantém com seu público, ameaçaram (pasmem) proibir seu filhos de assisti-lo nos próximos filmes da série.
Logo que surgiram as primeiras imagens de divulgação da peça, onde Daniel aparece com o torso nú, e em outras completamente despido, pêlos à mostra, a celeuma tomou conta dos veículos de comunicação do planeta. A polêmica alimentada na mídia felizmente não o fez mudar de idéia quanto ao papel, ponto pra ele.

O rebuliço causado pelo anúncio de que Daniel faria parte de Equus deve-se a dois fatores: a temática sobre comportamento e sexualidade e principalmente ao fato de que há uma cena de sexo em que o rapaz (que será interpretado por Radcliffe) fica nú em cena. Um jovem alçado ao posto de ídolo mirim e cuidadosamente explorado por toda uma indústria em torno dele, tomou uma atitude corajosa em que muitos no seu lugar nem cogitariam, ainda mais numa indústria que movimenta bilhões, como o cinema e especificamente na marca Harry Potter (filmes, livros,jogos, brinquedos e toda sorte de produtos). Ao optar por fazer parte de um espetáculo de teatro num texto denso e encarnando um personagem dificílimo, a aposta que Daniel Radcliffe faz é em sua própria carreira, disposto a não ficar eternamente associado ao bruxinho e ter uma imagem pessoal de bom menino. Demonstra que está disposto em seguir uma carreira de ator a ser levada a sério, buscando bons papéis e preocupando-se em agradar primeiramente a si mesmo, e é com Equus o pontapé inicial para desvincular-se da aura adolescente que o cerca.
Equus é um texto teatral de Peter Shaffer, e levou o prêmio Tony (Oscar do teatro) na época de seu lançamento há mais de 30 anos. Conta a história de um jovem cavalariço que mantém uma obsessão religiosa e sexual por cavalos. Numa noite ele fura os olhos de 06 deles e então um juiz determina que vá se tratar com um especialista da psique humana. O texto aborda questões sobre o conceito de "normalidade" na sociedade, e explora a forma como as pessoas "extirpam" todo comportamento considerado "desviado". No Brasil e em diversos países a peça foi encenada com sucesso. Por aqui tivemos a primeira delas na década de 70 (com Paulo Autran e Éverton de Castro) e a segunda em meados da década de 90.

Também no cinema foi feita uma ótima adaptação dos palcos para a tela, inclusive o texto adaptado foi obra do autor original, Peter Shaffer , que ganhou uma indicação ao oscar de melhor roteiro adaptado por este trabalho, além de indicações aos prêmios de melhor ator e melhor ator coadjuvante em 1977. Felizmente o filme foi feito à altura do texto teatral e conta com Richard Burton no papel do psiquiatra.

Equus é uma peça que deve ser vista, além do ótimo texto, as soluções estéticas para se representar os cavalos em cena são interessantíssimas e sempre um elemento enriquecedor do espetáculo. Se você for a Londres não perca a oportunidade de assistir - a peça ficará em cartaz mais alguns meses; vale muito a pena ver o filme também (disponível em dvd) ou mesmo aguardar uma nova montagem no Brasil, notícia que foi anunciada algumas semanas atrás por produtores do eixo Rio/São Paulo, que já estão se movimentando para levar Equus aos palcos novamente no Brasil.

obs.: Equus = cavalo (Latim).

4 comentários:

Artur Lins disse...

Não vi o filme ainda, Mau, mas me interessei quando vi o DVD lá na Cultura.
Achei importante o que o Daniel fez. Muito bom pra ele.
O cartaz da peça ficou um primor. O q vc achou?

gaspar cearamor disse...

adorei o seu blog

Dorian disse...

Acho que as celebridades se alimentam da quantidade de atenção que chamam para si. Radcliffe não é diferente.

Maurício disse...

Arthur, achei o cartaz muitíssimo bem pensado. A junção foi perfeita.