
A RAINHA
De Maio de 2000 a Dezembro de 2001, 17 meses, o pintor Lucian Freud esteve no Palácio de Saint James (Londres) para pintar um retrato da Rainha Elizabeth II.
Pode parecer algo rotineiro mas em se tratando de Lucian Freud a expectativa foi criada desde o início dos trabalhos. Conhecido por retratar a carne e o peso de SER sem retoques ou enfeites, Lucian mostra em seus quadros a crueza, os defeitos e imperfeições seja do homem, seja de um animal. O resultado da obra causou polêmica, e uma Elizabeth cansada, com uma coroa pesada sobre sua cabeça dividiu opiniões. Para muitos é o primeiro retrato da realeza britânica pintado de verdade, sem meias tintas. Para outros, um ultraje que deveria ser punido com a prisão na Torre. Não perdoaram a Freud a liberdade de transformar a rainha em "um travesti", disseram alguns. A imprensa se dividiu. Não houve meio termo. Passada a tormenta, o retrato está, hoje, na Royal Collection.
Esta breve introdução de Lucian Freud, artista o qual admiro imensamente, e o quadro de Elizabeth (ok, não me desculpo, eu adoro a monarquia inglesa) servem de uma introdução ao filme A RAINHA, que assisti ontem e que me deixou muito surpreso. Primeiro por ser um filme excelente: ótimo roteiro, direção de arte competente, mas o que mais chama atenção é justamente a figura central: Helen Mirren, a atriz que encarna Elizabeth. Depois de assistir o filme liguei-o imediatamente ao quadro de Lucien, na película a rainha é mostrada impassível, encalacrada dentro de si e sobre o peso que a coroa faz na cabeça de uma mulher que nasceu num castelo, cresceu e dali só sairá morta. Soberana de um povo, mãe simbólica de uma nação, Elizabeth atravessa os dias que se seguiram à morte de Diana seguindo os rituais rígidos que acha serem os adequados a sua figura de monarca. Ainda que o país chore a morte da "princesa do povo", a rainha tenta desvincular-se da catarse coletiva provocada por uma figura imensamente popular mas...que já não fazia mais parte da família real.
Helen Mirrem está tão convincente no papel que fica difícil desvincular a imagem da personagem na tela da imagem real de Elizabeth. Os gestos, o tom de voz, a sobrancelha tensionada, o ar cansado, a obrigação de ser rainha. Pude ouvir dentro do cinema algumas pessoas indignadas, chamando-a de fria, sem-coração e "velha nojenta". Mas em alguns momentos a platéia é levada a sentir uma espécie de compaixão por Elizabeth(pelo menos entendo assim). Claro que entre Diana e Elizabeth a comparação é injusta, mas o filme mostra o lado sufocante que está implícito a todo momento e impregna cada tijolo do castelo. O mérito aí é justamente podermos ver Elizabeth carregando essa coroa que lhe foi imposta. O quadro consegue passar isso perfeitamente e o filme apenas corrobora essa imagem. O fardo é pesado.
sobre o filme:

2 comentários:
Mau, não vi o filme ainda, mas está na minha lista de prioridades. O que me chamou a atenção, sobretudo nas resenhas, foi o fato de terem dado mais atenção a Helen Mirren (excepcional atriz) como a rainha do que à própria rainha Elizabeth. Afinal, Hellen Mirren é a Rainha ou não?
amigo, nao vi o filme ainda, mais com certeza quero provar dessas suas palavras perante os meus olhos...
ótimo comentário!
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