quinta-feira, 8 de fevereiro de 2007

JOÃO HÉLIO

João Hélio tinha 06 anos. Certamente nem em seus piores pesadelos, e em se tratando de uma criança desta idade os piores pesadelos não devem ser em grande número, mal poderia imaginar o que estava pra acontecer na noite de quarta-feira. João Hélio morreu aos 06 anos de idade e talvez não tenha conseguido pensar o que estava realmente ocorrendo ali: ele foi arrastado, preso ao cinto de segurança, durante 07 kilômetros, pelas ruas de uma cidade.
07 mil metros pendurado por um cinto de segurança, 07 mil metros de rastros de sangue, escorridos em 04 bairros percorridos pelo hábil motorista.
Parece-lhe surreal? Trágico? Revoltante?
O que os habitantes de uma cidade poderiam fazer diante de tamanha monstruosidade? Não fazem nada. Habitantes como eu, como você, que assistimos pelo Jornal Nacional o apresentador em tom pesaroso narrar o acontecimento. João Hélio foi mais um, virão outros, pode ser você mesmo que lê isto aqui ou mesmo eu que escrevo. Estamos acostumados, o que nos choca são detalhes, no caso do garoto, poderai ser a idade: 06 anos.
Mas o que mais me deixa atônito é que um caso destes não pára um país. Não pára uma cidade, não pára um bairro. Não mobiliza uma assembléia, um palácio, uma instituição. Não, de forma alguma. O sistema penal continuará o mesmo, os agentes políticos, eleitos por nós, cidadãos, farão discursos em suas tribunas, os policiais comemorarão a prisão em tempo recorde, baterão bastante nos presos e estes, os autores do crime estarão de volta em alguns anos. Um deles só ficará até 03 anos preso. Tem 17 anos não sabe o que está fazendo, precisa ser resocializado. A Febem certamente cuidará pra que ele saia uma pessoa melhor, afinal ela serve pra isso.
Nosso sistema penal carece de reformas urgentes, é de 1940. Mas quem se importa? O que se faz á respeito? Há alguma discussão em Brasília sobre isso? Deputados mobilizam-se para juntos conceberem um novo código penal?
Para se ter uma idéia, vou dar um exemplo da falta de, digamos, vontade dos políticos e também de nós mesmos:Na terça-feira, dia 06/02, a justiça decidiu que a divisão do "bolo" de ajuda finaceira aos partidos seriam divididos em partes proporcionalmente iguais, mesmo que o partido não tenha sequer um representante no congresso.Pois bem: em menos de 24 horas os 04 maiores partidos políticos do Brasil se uniram e fizeram um projeto de lei em caráter de urgência para ser votado nesta semana o retorno à regra antiga, que beneficiava os partidos maiores proporcionalmente.Já pensaram se estes mesmo 04 partidos se juntassem e fizessem uma reforma penal? uma reforma política? uma reforna na educação?Alguém aqui já cobrou do seu deputado e/ou vereador mudanças no código penal?...
E o sistema educacional como anda? Os garotos que fizeram isso com João Hélio, de onde vieram? Estudaram? Tiveram acesso a alguma estrutura pública que os tirasse da marginalidade? Onde andam propostas de programas e REFORMAS que tanto são necessárias neste país?
Onde finalmente estamos que não saímos às ruas EXIGINDO mudanças sociais, jurídicas, educacionais?
Semana que vem acontecerá novamente, não, pode ser até mais rápido, talvez amanhã mesmo. Aliás, está acontecendo agora.

4 comentários:

homero disse...

Notícia revoltante e trágica. Pontos de vista bastante interessantes e lúcidos. Escrita envolvente e lógica. Parabéns pelo blog. Agora, me diz uma coisa: como é que eu coloco o endereço do teu blog no meu? Abraços
Homero

Anônimo disse...

Eu me sinto revoltado, ultrajado. Penso em pegar em armas e fazer minha guerra particular contra o MAL! Mas cada vez eu vejo que, às portas do Apocalipse, o Anticristo somos nós. Nós mesmos. O HOMEM. Somos nós que permitimos a violência se propagar quando elegemos e não cobramos de maneira eficaz os nossos políticos. Somos nós que, voltados pro próprio umbigo, esquecemo-nos de que o mundo é grande e redondo e que temos de acabar com essa coisa de "orgulho de ser nordestino" e acordar pra realidade do nosso orbe.
Estamos acabando com o mundo. Poluição, destruição, morte, genocídio, revolta, tortura.
Mas minha guerra particular contra o mal vai ser com ações de bondade, caridade, bons pensamentos e mensagens. Temos de transmitir isso, Maurício. A nossa capacidade de fazer o bem em meio a esse caos, mesmo que nossa alma revoltada grite por justiça. Mas não adianta uma justiça paliativa, a qual apenas sacie nossa sede por sangue, se depois nos tornarmos vazios e sofrermos pelas nossas próprias ações, pois nossa consciência é nosso mais cruel juiz. Temos de nos unir enquanto seres humanos, enquanto pensantes e viventes, pois "nosso mundo é apenas um legado para as gerações futuras". Abraços e parabéns!

Daniel de Andrade Lorenzo disse...

E daqui a pouco é carnaval...
:(

Ricardo Mourão disse...

Que prazer ler suas palavras! Que prazer poder sentí-las pulsando em meu peito e incomodando minha consciência! Obrigado por me "acordar". Beijo grande!