quarta-feira, 14 de fevereiro de 2007

É FREVO!

O carnaval de Recife deste ano comemora os 100 anos do frevo. O ritmo vem sendo reverenciado em vários eventos pela cidade e será o principal mote da festa. Nos últimos dias eu venho me surpreendendo comigo mesmo, estou numa fase de re-descoberta (é assim que escreve?) do frevo.
Vou explicar melhor: eu nunca fui dos maiores simpatizantes do ritmo; refiro-me especificamente ao som do frevo, pois a dança eu nem tenho coordenação motora suficiente e sinceramente acho que "fazer o passo" algo complicado e descordenado. Penso que dançar frevo, dançar mesmo, daquele jeito que vemos pela tv, nas mesmíssimas matérias do jornal nacional que se repetem a cada ano, mostrando os passistas naquele frege incontrolável de pernas, braços, sorriso e sombrinha algo inatingível para o cidadão comum. 99% das pessoas que vejo na rua "pula" o frevo, sacode um pouquinho e só, performances mesmo só pra gente tarimbada.
Mas e a música, essa sim, venho descobrindo ultimamente e tenho gostado. Cheguei à conclusão que reneguei o frevo da minha vida logo que entrei na adolescência. Má vontade mesmo. Achava as músicas chatas, modorrentas e com cara de coisa-velha-pra-turista-ver. Tsc...tsc...quanto tempo perdi.
Quando criança não: meu pai me levava para o baile de carnaval da AABB e eu me esbaldava. Quando veio a década de 90 e a "axé music" estourou aí foi que cortei relações mesmo. De repente o frevo virou o vilão ante a onipotente música baiana, e lembro que lia nos jornais uma guerra declarada entre micareteiros e passistas. Confesso que pulei muito Recifolia sim, e não me abstenho de correr atrás do trio elétrico (na verdade nunca corri, caminhei), o erro é exaltar um em detrimento do outro. Essa comparação já é estúpida, e os argumentos pioram ainda mais qualquer tentativa de colocaram frevo e axé em pé de guerra.
Pois bem, o renascimento começou quando fui assistir um show do lançamento do cd comemorativo "É de Perder os Sapatos", obra que reúne cantores daqui e de lá interpretando frevos. O mérito principal na verdade vem do Maestro Spok e sua Orquestra, que fez os arranjos, e vem fazendo uma releitura das canções que já não é de hoje. Minha primeira constatação foi de que existem muito mais músicas de frevo do que eu imaginava. Meu universo frevístico (!) era tomado por "Vassourinhas" e mais uns 10 outros consagrados por aqui. Um deles, na verdade eu confesso, já gostava há anos, mas minha má vontade por pura burrice e teimosia não me deixavam admitir: Último Dia, de Levino Ferreira é sem dúvida o mais belo frevo já composto, é arrebatador.
Confesso que não há mágoas de nenhuma parte e ultimamente tenho ouvido muito frevo, descobrindo mesmo, e agora já não escondo mais que sou um recifense de coração aberto para o ritmo. Já era hora de me deixar levar por ele. Já ouviram falar em paixão de carnaval? Pois esta nem precisa compromisso mesmo, tá na alma.

Um comentário:

homero disse...

Só conheço os frevos mais tradicionais o que é uma fatalidade. Vou tentar redescobrí-lo. Lindo texto.