terça-feira, 13 de fevereiro de 2007


Acredito que um disco possa mexer com o consciente/incosciente de uma pessoa; tenha o "poder" de dar uma chacoalhada na visão de mundo ou pelo menos tenha um efeito próximo disso. Em tempos de música digital, onde cada vez mais as músicas perdem a identidade coletiva que têm dentro de um álbum, e tornam-se fechadas dentro de si, istoé, não fazem mais parte de um "todo", de uma obra que reúne uma amostra tempo-espaço do artista.

Alguns chamam de saudosimo, pode ser, mas geralmente vem atrelada a uma conotação simplória de que o avanço inexorável da tecnologia digital faz com que aqueles que viveram o passado tornem-se rabugentos que amaldiçoam a modernidade.Não tanto assim.
Hoje pode-se baixar qualquer tipo de música na web. Uma mesma música é encontrada na versão original, na versão "rádio" (mais curta), na versão demo, na versão voz e violão que o artista tocou de improviso, nas inúmeras versões "ao vivo", nas versão da versão (!), enfim, um número de possibilidades dentro da mesmíssima canção. Baixamos música aleatoriamente, faixas de discos diferentes e até de artistas diferentes num mesmo cd, arquivo, IPOD.

A nostalgia que tenho do disco, não é puro e simples capricho rabugento, mas é que enxergo como algo fechado: 10, 12 músicas em média que traduzem aquele momento do artista. Os discos trazem essa identidade sonora e estética de um momento único. Por trás da obra há um sem número de motivações e inplicações diretamente ligadas ao íntimo do artista, que se perdem quando buscamos "a faixa" que queremos web afora.

A maneira que consumimos música hoje está mudando. Não resisto em fazer uma relação com essa individualização da música com o próprio individualismo que nos permeia no dia-a-dia e que surge cada vez mais como a marca desta mudança na sociedade que a internet trouxe.
O ritual de comprar um disco e colocá-lo pra tocar, ouvindo faixa a faixa cada vez mais vira algo menos usual. Não vou entrar no mérito do preço do cd, seria outra discussão (e sensata) sobre o download de músicas, me detenho apenas na questão do acesso à musica na web.

Claro que ganhamos por uma lado com esse acesso irrestrito, ouvir canções que jamais seriam lançadas comercialmente e conhecer artistas que jamais veríamos numa prateleira com facilidade é sem dúvida um ganho e tanto. Mas sinto falta do ritual de comprar um disco, abrir o encarte e lê-lo, ir ouvindo suas faixas, ouvir novamente, "maturá-lo" e daí descobrir outras nuances, sentidos. Acho isso uma experiência e tanto.
E olha que eu tô falando do cd, se lembramos do vinil, onde essa sensação era ainda mais instigante e que ao terminar o lado A o "ritual" de troca para o lado B eram segundos de ansiedade do que estaria por vir...melhor ir ficando por aqui.

3 comentários:

chuck norris disse...

Eu entendo esse teu "saudosismo" como saudosismo mesmo, mau.Porque você pode baixar o mesmo disco que tem na loja e grava-lo igualzinho(com ou sem intervalo de segundos entre as faixas), se fizer questão de capa, pode imprimi-la em papel igual ao do cd, colorido, etc..Se é do material físico ue você sente falta, basta seguir estes passos.
O grande diferencial é o preço, o acesso que isso causa, a divulgação para o artista(porque você sabe que o interesse total em vender o cd é da gravadora, que abocanha maio prte do lucro)e principalmente o prazer da subversão. De dar dor de cabeça à Sony, à EMI, Uiversal e cia.
E a ´música continua sendo coletiva, ainda mais colaborativa.Via internet se faz música, veja o exemplo do COLETIVO Re:combo.Podemos sentir falta por questão de apego mesmo, já que foi nossa primeira forma de contato com produção fonográfica e tudo ao que remete de bom o lance de você abir o cdzinho, por pra tocar, etc..mas é massa tb hegar em casae ver um cd rarissimo todo baixado, prontinho pra ser queimado. Vou lembrar com muita saudade dessa fantástica experiência quando estiver com meus 40 e poucos...

homero disse...

Eu penso como você, Maurício e acho que o seu rabugento saudosismo está certo. Não posso deixar de pensar profissionalmente, também, nesse caso. Não sei se você lembra na década de 80 quando um dos maiores sindicatos do país perdeu força:o sindicato dos bancários.Pois é, a mão-de-obra foi substituída pelos caixas eletrônicos e muita gente perdeu seus empregos. Mas, como não somos de lutar pelos nossos direitos, vamos perdendo o nosso patrimônio civil. Meio louco isso que estou falando, né?! Mas, quando você fala nas 10 ou 12 músicas que o artista fez naquele momento, penso também na funcionária da gravadora que servia o cafezinho, na recepcionista, no zelador, no artista, no cara que coloca a música em não sei quantos canais, essas coisas todas que estão em volta. Teremos um impacto social com isso também, principalmente da economia formal. O capitalismo, infelizmente ou felizmente, foi o único modo de organização da sociadade que perdurou. Assim, as gravadoras vão continuar ganhando dinheiro, de um modo ou de outro. Acreditar que o camelô da esquina que vende o cd "pirata" está tendo uma oportunidade é deixar que ele viva à margem da sociedade. O preço do cd pouco iumporta para mim. Tem coisas que posso comprar e outras não, mas, vejo os cd's como obras de arte mesmo e não apenas como um passar de tempo. Quando falo em obra de arte, penso na música como um modo criação, uma forma de outrar-se. Acredito que a tecnologia pode nos ajudar a conhecer coisas novas, a divulgar, ou seja, ser um acesso complementar, apenas complementar. Tenho poucos cd's, mas, tenho os que realmente gosto. Muitas vezes comprei, merecidamente, apenas por uma música. Vou continuar assim. Adorei seu texto. Parabéns

Anônimo disse...

Seria ótimo ter essa conversa numa roda entre amigos, tomando uma cerveja e escutando um bom vinil... como o do Clube da Esquina... mas na "ausência" disso, fiquemos com outro programa também muito interessante: nos falando pela internet, lendo as bem escritas matérias do mau e baixando cds que não teríamos acesso, seja por seu custo ou falta no mercado. ; )